segunda-feira, 10 de agosto de 2020

(Péssima) Mãe de Planta

Ano passado eu tava pensando em, de alguma forma, honrar o sangue do meu avô. Como ele era jardineiro*, pensei que seria legal eu aprender a cuidar de plantinhas. Fiquei com receio porque eu nunca tive o tal "dedo verde". Tá mais pra dedo podre, porque nas poucas vezes em que fiquei responsável por cuidar de plantinhas, elas morreram em pouco tempo.
Quando eu era adolescente, por exemplo, cismei de cuidar de um vaso de amor-perfeito. Foi uma caçada até conseguir o vaso, a terra, as flores fora de época. Levei pra casa, cuidei da melhor forma possível, mas em poucas semanas o vaso estava tomado por pulgões que atraíram joaninhas e, como eu adoro joaninhas, não me dediquei a matar os pulgões e deixei as joaninhas virem se alimentar deles enquanto eles se alimentavam da minha plantinha. Morreu a planta, os pulgões sumiram e as joaninhas foram se alimentar em outro canto.
Eis que chegamos ao ano de 2019 (bons tempos...) e eu estava pensando [volte ao começo do post], mas não fui atrás de nada. Fiquei esperando um vaso cair do céu sob minha responsabilidade. Não caiu do céu, mas minha cunhada me deu um vasinho de suculentas no Natal e eu pensei "Tá aí! Vou virar jardineira é agora! Todo mundo fala que suculenta é fácil de cuidar, que praticamente não precisa de água e essa é toda a responsabilidade que eu posso assumir neste momento".
Coloquei meu vasinho na estante do quarto e esqueci dele. Quando digo esqueci, é porque esqueci mesmo. Lembrei dele em janeiro, quando já não havia mais suculenta nenhuma e a terra estava seca. Talvez a suculenta tenha ido embora? Talvez ela tenha sido roubada? Talvez ela tenha morrido? Nunca saberemos.
Mas decidi que ser mãe de planta é demais pra mim.
Desculpa, Vô! Fica pra outra encarnação.


*Se você mora em SP e/ou já visitou a Cidade Universitária, da USP, saiba que andou em meio às árvores e plantas que ele plantou e cuidou por mais de 30 anos, enquanto trabalhou lá, na equipe de jardinagem. As poucas vezes que estive na USP depois que ele morreu, foram como ir visitá-lo na sua casa. É uma sensação incrível olhar para todas aquelas árvores e pensar que meu avô plantou e regou tudo aquilo. Ele está em cada pedacinho verde daquele lugar enorme. Meu avô foi um grande homem e segue eterno através do trabalho dele.

Cidade Universitária (USP) - Butantã, São Paulo 
Fonte: https://mapio.net/pic/p-105867411/



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Trilha Sonora: O Quereres - Caetano Veloso, na Nova Brasil FM