domingo, 13 de outubro de 2024

A angústia da espera

Na última semana o assunto "envelhecer" tem sido o foco de quase todos os meus dias. Eu penso nisso, eu falo disso, eu lamento, eu celebro.
Meu pai está internado há alguns dias, tratando os problemas de rim e coração (que normalmente ele não cuida como deveria e, justamente por isso, foi parar no hospital). Há poucos dias meu pai completou 60 anos e, embora seja ainda muito novo, já não tem mais a juventude que se fixou na minha memória porque foi a fase da vida dele que eu mais presenciei.
Quando meus pais se casaram, tinham em torno de 20 anos. Meses depois eu cheguei. Pouco tempo depois veio minha irmã. Alguns anos depois, o meu irmão. Alguns poucos anos depois, meu outro irmão.
Entre o primeiro e o último nascimento, 13 anos se passaram. Meus pais ainda eram jovens. Mais jovens do que eu sou hoje. E aí a questão se desenrola ou se enrola, dependendo do ponto de vista.
Agora que meu pai está com a saúde frágil, vejo a materialização de tudo o que tenho observado e é fato para qualquer ser vivo: o tempo passa e a vida tem um fim. Quanto mais o tempo passa, mais perto estamos do fim. Eu aceito, não questiono. Lamento, mas não questiono. Muito menos tento lutar contra, porque sei que é uma batalha que eu não vou ganhar e, além de não ganhar, posso sair mais machucada do que o necessário.
Minha filha completará 12 anos no próximo domingo. Meu marido fez aniversário essa semana. Todo mundo faz aniversário todo ano. Eu celebro os aniversários e gosto de pensar na sorte que temos por vencer mais um ano porque todo dia, a todo instante, a gente poderia simplesmente cair morto no chão e não cai. E o aniversário é a soma de mais 365 dias em que poderíamos ter caído mortos no chão e não caímos.
Saber que meu pai pode não ter mais um aniversário pela frente enquanto todos nós vamos continuar comemorando nossos aniversários me faz olhar as coisas por uma ótica que não gosto. A ideia de "quanto mais o tempo passa, menos tempo de vida temos". Acho triste pensar assim e acho triste quem não celebra aniversários por causa dessa ideia. Mas estar inserida nesse momento da vida do meu pai, diante da possibilidade concreta de que, sim, ele não tem mais tanto tempo de vida quando tinha quando eu e meus irmãos nascemos, me obriga a pensar na finitude da vida mais do que penso no tamanho gigantesco que uma vida pode ter.
Pode ser que em uma reviravolta do destino eu mesma caia dura aqui e morra antes dele, que os médicos sejam tão competentes e Deus tão brincalhão a ponto de concederem a ele mais algumas décadas de vida. A gente não sabe. A gente nunca sabe. E esse não saber, quando ficamos tentando entender as coisas, é o que me consome.
Estou a semana toda repetindo que não acho que ele vá morrer agora, no hospital. E, do fundo do meu coração, não acho. Mas estar encarando a morte tão de pertinho me faz lembrar que, pode não ser agora, mas em breve.
E dentro de alguns anos essa situação se repetirá com a minha mãe. Em mais alguns anos com o meu marido, meus irmãos, amigos. A vida passa e a gente passa junto.
A vida está passando agora.



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Trilha Sonora: Aproveitando o sossego da manhã de domingo, passarinho cantando, uma moto passando ao fundo e meu teclado tec tec tec aqui.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Revendo os meus filmes do coração

Estava no Blue Sky (agora que fomos despejados do Twitter) e surgiu o assunto "Oscar roubado da Fernanda Montenegro". Entrei na conversa e o assunto chegou em "Shakespeare Apaixonado é uma bomba".
A atriz trombadinha de estatueta eu acho beeeem sem graça mesmo, embora eu goste de alguns filmes que ela fez, pesar dela. Mas o filme, na minha memória, era bom ou pelo menos bonitinho.
Aí falaram "mas a gente gostava de muita bomba mesmo" e pensei que talvez seja a hora de rever esses filmes queridos da jovem Camila, porque eu era mesmo bem emocionada, como dizem hoje em dia. Qualquer romance água com açúcar anunciado na programação semanal do jornal (tinha isso, lembram? Canal por canal, programação da semana toda no jornal), eu já tava colocando o VHS no vídeo e apertando REC + PAUSE para deixar a fita no jeito e poder gravar assim que o filme passasse na TV.
Enfim, resolvi rever esses filmes do meu coração para ter certeza se eu ainda gosto mesmo deles.
A lista, por enquanto, será:

1 - Shakespeare Apaixonado 
2 - De Volta Para o Presente 
3 - Agora e Sempre
4 - Romeu + Julieta (versão do Leonardo DiCaprio)
5 - 60 Segundos
6 - Da Magia a Sedução
7 - Grandes Esperanças

Coloquei 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você na lista, mas obviamente que o filme continua bom. Eu revejo até hoje e sigo gostando. Fora de discussão.
Os outros eu vou rever e volto para contar o que achei.
Quanto tempo isso vai demorar? Sabe Deus. Mas vou tentar.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Rua 15, às 6h45

Quando eu estudava, por morar pertinho da escola, ia caminhando com amigas ou com a minha irmã e, chegando na rua da escola, não me importava com o sono ou com o frio das 6h45... 6h50 da manhã. Meus amigos estavam lá, o pessoal da escola estava lá e, eventualmente, algum garoto bonitinho específico ou aleatório também estava lá.
Era divertido encontrar tanta gente querida e conhecida todos os dias e todos os dias parecer um reencontro depois de muitos anos sem contato. Não faltava assunto, não faltava novidade, não faltava risada. Muita coisa acontecia entre meio dia do dia anterior e 6h45 do dia atual. Se fosse uma segunda-feira, nossa! Muito mais coisas aconteciam entre meio dia de sexta-feira e 6h45 de segunda.
Olhando daqui, de hoje, nada muito importante acontecia, mas muita coisa acontecia. E lá atrás era, sim, tudo muito importante.
Todo acontecimento depois do horário da escola era cuidadosamente guardado junto com a ansiedade para poder compartilhar com o grupinho de amigos na porta da escola. Não tinha o WhatsApp pra mandar foto do bonitinho que vimos na padaria e falou "oi" sorrindo pra gente. Não tinha Instagram pra postar para os melhores amigos um story na festa da sua prima. Não tinha nem SMS ou MSN para mandar um "que saco! Minha mãe tá me enchendo o saco por causa das notas de matemática de novo!". Um TikTok pra postar transição de looks usando Pakalolo ou Side Play ou Planet Girls com uma música da Shakira ou das Spice Girls. Nada.
Telefone até rolava, mas como fofocar em sigilo se só tivesse linha na sala, com toda a família ao redor? Telefone sem fio era coisa de rico. Às vezes, até o próprio telefone fixo era coisa de rico.
Tudo era urgente e imediato naquela época, mas, ao mesmo tempo, tudo precisava esperar algumas horas para ser compartilhado. Na porta da escola. Era lá que começava o nosso dia.
A gente acordava mais cedo pra sair mais cedo de casa e chegar na escola antes do sinal bater, porque assim sobrava mais tempo para conversar e contar tudo o que precisava ser contado nos mínimos detalhes enquanto o resto do grupo soltava gritinhos de alegria e "não acredito!!!".
Mais tarde tinha o intervalo e duas vezes na semana tinha a educação física, que era como um intervalo de 50 minutos, já que o professor sumia e a gente aproveitava pra tomar sol no gramado enquanto lia a revista Capricho ou a Toda Teen. Revista Carícia, de vez em quando aparecia, mas ninguém ligava muito. Legal mesmo era fazer os testes da Capricho e ler o horóscopo.
Mas a hora da entrada... Tinha uma magia ali, um frescor juvenil misturado ao frescor das manhãs do fim dos anos 90 e começo dos 2000. Uma urgência de aproveitar todos os minutos possíveis porque, não falávamos disso, mas sabíamos que aquilo não seria eterno.
Minha última manhã na porta da escola aconteceu em dezembro de 2002. Depois disso veio uma tonelada de mudanças e distâncias, faculdade, trabalho, casamento, filhos... A vida foi passando.
Hoje eu levei minha filha para a escola e chegamos um pouquinho mais cedo. Me despedi na esquina e fiquei observando ela descer a rua. Ao invés de entrar, ela parou na rodinha de amigos e ficou ali na calçada.


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Trilha sonora: Tela Quente - Maglore. O título da música combinou com o clima do post.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Maglore - Minha (atual) banda nacional preferida

Alguns anos atrás, assistindo Shippados, uma série da Globo Play com a Tatá Werneck e o Eduardo Sterblitch (criação de Fernanda Young e Alexandre Machado), ouvi uma música que me tocou lá no fundo do peito: Motor. Fui procurar a música completa, achei a banda Maglore, mas parei por ali.
Segui encantada com a letra. Tanto que, um tempo depois, ouvi a Pitty cantando uma música lindíssima e pensei "já ouvi isso antes". Bingo! Ela regravou Motor e deixou tão linda quanto a original, mas com um toque diferente, mais a cara dela.
Pouco depois, mais uma versão: Gal Costa. Outra vez, parecendo uma música nova, com jeito de Gal, me apaixonei pela 3ª vez pela mesma música como se ela fosse inédita.
Não lembro em qual ponto aconteceu, entre Pitty e Gal, que resolvi ouvir o resto da Maglore e meu Deus do céu! Que banda boa! Já são anos ouvindo muito, ouvindo tudo e desejando um show deles que eu possa ir.
Em novembro eu quaaaaase consegui ir a um show que eles fizeram em SP, enquanto eu estava por lá. Cheguei a reprogramar minhas rotas e passeios daquele dia, mas a Buser deu o maior vacilo, um rolo de passagem cancelada e tive que voltar pra casa na manhã do dia 15/11. O show foi na noite do mesmo dia. Uma pena, mas um dia vai dar certo.
Agora, especificamente sobre as músicas, recomendo muito que comecem pelo disco V e daí sigam para os outros, conforme o coração mandar. Quando já estiverem apaixonados, ouçam o Ao Vivo deles e terminem com o Maglore Acústico, lançamento mais recente até aqui.
Algumas músicas são gostosinhas de cantar sozinha no chuveiro, como Dança Diferente. Outras são boas para cantarolar mesmo sem prestar atenção na letra (mesmo elas sendo todas ótimas), como Se Você Fosse Minha, que outro dia a Alice estava com ela grudada na cabeça por causa do refrão meio chiclete. Ou ainda, a gostosinha Café Com Pão, que tem um lá lará lará muito bom de cantarolar o dia todo.
Tem as poesias maravilhosas também, como é o caso de Motor, Não Existe Saudade no Cosmos (Erasmo Carlos gravou, tá? Não é qualquer coisa essa banda!), Amor Antigo e mais umas dezenas que eu posso listar e recomendar que sirvam de trilha sonora para lindos e grandes amores ou grandes amores perdidos.
Uma, em especial, me deixa sempre impressionada quando ouço: Maio, 1968. Essa poderia facilmente ter sido escrita e gravada pelo Secos e Molhados. Tem a cara de Ney Matogrosso com um toque de Beatles. Uma melodia maravilhosa, uma letra daquelas que você ouve e visualiza as cenas... Além de ser uma aula de história sobre os fatos de maio de 1968 em forma de música. Hipnotizante.
Inclusive, falando em Secos e Molhados, eles gravaram Fala e ficou boa demais!
Algumas eu escolhi como minhas trilhas pessoais: 
  • Dança Diferente, que eu já citei e dá vontade de dançar como no clipe.
  • Mantra, que sempre me faz pensar e repensar muita coisa.
  • Aquela Força, que sempre me dá uma força extra quando tô precisando recuperar o fôlego.
  • Espírito Selvagem, que sempre me deixa feliz quando ouço, de um jeito que eu sorrio sozinha enquanto canto.
  • Calma que, bem, me acalma mesmo.
Ah... Muito difícil ficar listando aqui, porque eu gosto muito de todas, algumas por mais de uma razão, inclusive. Poesia + ritmo + identificação + reflexões... É o caso de Transicional, que tem uma melodia e letra lindas e, mesmo não falando diretamente comigo, me deixa muito encantada com a beleza dela.
Sério:

"Ela vai se apaixonar outra vez
De novo e de novo
E até sem querer
E perceber que não são os outros
É perceber tudo que se é
Por tanto tempo teve que viver
Na sombra dos que os outros vão entender
E não há certo
E não há errado
É sobre ser
Tudo que se é"

Que coisa linda! De um jeito super simples, mas lindo!
Se vocês forem clicando nos links que eu postei aí, vão entender porque a Maglore é a banda nacional que eu mais ouço nos últimos tempos.

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E para quem quiser conhecer melhor a banda, ver agenda de shows, curtir umas fotos etc. e tal, tá aqui:
Instagram deles
Canal do Youtube
Wikipedia deles, um pouco desatualizada
Bônus: playlist das músicas que tocam na série Shippados. Tem muita coisa boa além da Maglore. Vale a pena ouvir!

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Trilha Sonora: Maglore, claro.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Diálogos Memoráveis

De vez em quando eu me enfio em situações que, no momento em que estão acontecendo, parecem perfeitamente normais, mas quando recordo ou comento com alguém, percebo os absurdos que ouvi ou falei.
Essa conversa, por exemplo, aconteceu anos atrás, quando eu estava devendo um cartão de crédito e ligaram pra cobrar:
- Blá blá blá pague a dívida blá blá blá nome negativado blá blá blá.
- Não tenho dinheiro.
- Mas e se a gente parcelar? Ficaria bom para a senhora?
- Depende.
- Podemos fazer em N vezes de X reais. Qual a melhor data para o pagamento do boleto?
- Não posso. Não tenho esse dinheiro.
- E em N vezes de X reais?
- Também não.
E ele seguiu me propondo parcelas de menor valor em mais tempo. Nenhuma cabia no meu orçamento. Eis que:
- Tudo bem, Senhora. Qual valor ficaria acessível para a Senhora?
- R$ 15,00.
- Desculpe, Senhora. Não entendi.
- R$ 15,00. Só posso pagar R$ 15,00 por mês.
- Não, Senhora. Por esse valor não é possível emitir o boleto.
- Então não posso pagar. Tchau.

Não lembro como foi, mas um tempo depois eu paguei esse cartão.

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Trilha Sonora: gritaria de aluno e professor enquanto estou escrevendo (estou ociosa no momento).