sexta-feira, 24 de abril de 2015

Resignação

Saiu de casa naquela manhã decidido a sumir. Queria, finalmente, buscar a felicidade perdida há tantos anos. 
Os filhos criados, a esposa falecida há 2 anos, os netos indo para a faculdade, os amigos nem sabia mais por onde andavam.
Nada mais fazia sentido. Sentia há muito tempo que tinha mais passado do que futuro. 
Na infância o que nos motiva são os sonhos para a vida adulta e os empurrões que os pais vão nos dando. Estude, se comporte, faça amigos, vá brincar. Depois, na adolescência, os desejos de liberdade e descobertas. Faça faculdade, arrume emprego, ganhe dinheiro, namore, perca a virgindade, fique noivo, conheça gente nova. Por fim, na vida adulta, as preocupações com a família nos fazem seguir, embora já sintamos o cansaço pela rotina. Trabalhe mais, compre uma casa, tenha filhos, pague um bom colégio para as crianças, troque o carro, conserte o portão que está rangendo, espere o filho chegar da festa, mantenha-se fiel e casado.
Já havia cumprido todas as etapas e, felizmente, com sucesso. Sabia que a esposa havia partido satisfeita com o marido e pai que ele sempre foi. Deu aos filhos a infância segura e a base para uma vida adulta feliz. Aposentou-se como um funcionário respeitado dentro da empresa, mesmo nunca tendo feito algo que realmente o orgulhasse naquele emprego burocrático e mecanicamente repetitivo. Mas nunca, em momento algum, reclamou de acordar às 6:00 am, mesmo no inverno, mesmo no verão, mesmo doente, mesmo infeliz. Se precisava fazer, que fosse feito. Era assim que se forçava a sair da cama todos os dias e era com a certeza de dever cumprido que ia dormir todas as noites, após ajudar os filhos com o dever de casa, lavar a louça do jantar e recolher o cachorro.
Tinha tudo planejado na cabeça há meses. Sairia para caminhar como todos os dias, logo após o café da manhã e, certificando-se de ter deixado o lixo na rua e as contas pagas, levaria apenas carteira e documentos e sumiria no mundo. Sem se despedir, sem explicar nada, sem pedir permissão aos filhos. Simplesmente deixaria de existir naquela vida para tentar existir em outra vida, uma nova vida com o pouco de vida que sabia que ainda tinha pela frente.
Caminhou alguns quarteirões, pensou em ir pela última vez à missa do bairro, mas que sentido havia nisso? Começar uma vida nova com um velho hábito? Não. Entrou na rua antes da igreja e seguiu mais alguns metros até perceber que o tempo estava fechando e ele não tinha um guarda-chuva. Dane-se, pensou, me molho e começo a nova vida assim, de forma inconsequente e imprevisível. Mas, com a idade já avançando, não seria muito inteligente arriscar-se na chuva e dar chances a uma pneumonia. A intenção era viver mais o pouco tempo restante, não encurtar mais o tempo que lhe restava da vida. Deu meia volta e pôs-se a pensar onde estaria o guarda-chuva ou a capa de chuva.
No caminho para casa foi pensando no grande absurdo que estava prestes a fazer. Considerou mais uma vez a possibilidade de arriscar-se na chuva que talvez nem chegasse a cair e, antes que pudesse concluir seu raciocínio, sentiu o primeiro pingo gelado molhar seu nariz.
Colocou a mão na barriga, como se pudesse agarrar ou conter o buraco que só fazia crescer dentro dele, respirou fundo com o peso de quem tenta dar o último suspiro debaixo de toneladas de escombros e, finalmente, assumiu-se um covarde.


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A foto que ilustra o post e me inspirou a escrever esse conto meio mal contado, é da Gabriela Romeiro (@quandocoisa), que fotografa e escreve lindamente.


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Trilha Sonora: Estou há dias tentando concluir esse conto (faltou tempo, faltou internet, faltou humor), então rolou muita música nos meus fones durante o processo todo. A última coisa que ouvi foi Hole ( ♥ ) - Malibu.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Um Recado

Tô num nível de preguiça barra cansaço barra mal humor barra irritação barra vontade de ficar em paz barra vontade de ter silêncio que não garanto post nenhum por muitos dias e isso compromete a meta de postar toda semana mas estou tão pouco me fodendo pra isso que veja só não tô usando ponto nem vírgula e estou preferindo escrever barra ao invés de usar a barra de verdade que é aquele sinal gráfico representado por um traço torto para o lado direito que usamos para separar coisas e se você não sabe o que é uma barra não deveria nem estar aqui deveria estar estudando sobre barras e pontuação para contar quantas eu deixei de usar aqui.


Gif aleatório engraçadinho só porque sim.

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Trilha Sonora: queria ver TV mas não tô ouvindo bosta nenhuma aqui.