segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Risco de Parecer Doida

Já escrevi aqui, acho que mais de uma vez, a respeito da minha avó que se foi quando eu tinha 9 anos. Ela era (e sempre será) a paixão da minha vida. Éramos muito apegadas e encarar a morte dela ainda tão criança foi uma coisa que me marcou profundamente e me fez pensar sobre Deus, sobre a morte, sobre a vida. Tirei conclusões precipitadas na época e hoje entendo de forma muito mais clara todo o processo da vida e morte e sei que a existência ou não de Deus não tem a ver com a finitude ou não das nossas vidas. Isso é biológico, necessário e mesmo com a dor que causa, é até aceitável depois de um tempo.
Acontece que passar esses anos seguintes sentindo a falta da minha Mãe Velha (nunca a chamei de vó. Era a minha Mãe Velha) me fez buscar em outras pessoas coisas que lembrassem ela, que não me deixassem apagar da memória as poucas lembranças que tenho dela. Quando não temos consciência de que podemos perder algo ou alguém, damos muito menos valor e prestamos muito menos atenção nos momentos que futuramente poderiam ser lembranças e histórias para contar.
Nisso, com toda essa necessidade de buscar em coisas e pessoas detalhes que me lembrassem dela, já tive crises de choro por medo que o meu ex-namorado morresse por causa da diabetes que ele tem em comum com ela, já me vi observando com uma ponta de inveja o abraço carinhoso entre avó e neta por aí, coloquei na minha filha o nome dela como segundo nome, entre outras coisas.
Agora, trabalhando nessa escola atual, conheci uma senhora que tem idade para ser minha avó e, por ter sido sempre tão simpática e educada, me oferecendo comida e lanchinho o dia todo (ela já notou que eu adoro lanchinhos no meio do dia), batendo papo sobre a vida dela e a minha e sempre sorrindo ao me dar boa tarde e desejar um bom fim de semana, comecei a ter a sensação de que ela se parecia com a Mãe Velha.
A sensação se tornou mais real quando minha irmã, que também conhece a senhora, disse que vê a mesma semelhança.
Desde então vivo numa dúvida quando a vejo: conto pra ela sobre a semelhança e corro o risco de cair num choro sem fim de saudade da Mãe Velha ou fico guardando só pra mim essa sensação de que quando ela me chama de "minha filha" com aquele sotaque tão familiar, quem está falando comigo é a minha Mãe Velha e não a avó de outros netos?
De qualquer forma, esse contato diário com ela tem me feito sentir novamente como a neta que eu não me sentia há anos e isso me faz bem. Muito bem (tirando a sensação de que sou louca por estar adotando como se fosse minha avó uma senhora que nem imagina que se parece tanto com outra pessoa).

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Trilha Sonora: Não tem, mas a Mãe Velha adorava Erasmo Carlos.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Somos Todos Culpados

Recentemente passei por uma separação que foi causada, entre outros fatores, pela interferência de uma pessoa que, creio eu, nem imagina o dano que causou a uma relação de 5 anos (de onde nasceu uma criança, inclusive).
Isso me fez pensar em como essa pessoa se sentiria se soubesse do problema que ela ajudou a causar, se soubesse que (em partes) por culpa dela a minha filha vai crescer sem ver o pai dormindo e acordando na mesma casa que ela, vai crescer sem ver os pais casados, fazendo programas de família, comemorando aniversário de casamento e trocando presentes no 12 de Junho. A presença do pai, como pai dela, não tenho dúvidas que ela terá. Mas aquela figura masculina que eu tive em casa, da autoridade diária do pai que trabalha o dia todo mas chega pouco antes do jantar para dar bronca pelas coisas erradas e parabenizar pelas coisas certas, para olhar o caderno da escola e ajudar na lição de casa, contar a historinha antes de colocar pra dormir e dar boa noite... coisas que eu tive e minha filha não terá.
Eu saí "prejudicada" também, mas nada que um novo amor (um dia, quem sabe?) não resolva. Para ser um casal, basta outra pessoa que te ame. Qualquer pessoa. Mas para ter um pai, não serve qualquer um. Ainda mais quando você sabe que o seu existe e está perto o bastante para que ninguém tome o seu lugar, mas longe o bastante para que exista saudade até que chegue o fim de semana de novo.
Fiquei pensando, então, quantas coisas a gente faz sem pensar, faz por maldade inconsequente, faz pensando que não está prejudicando ninguém e no fim a gente acaba prejudicando, acaba estragando um relacionamento que não era do nosso interesse destruir, acaba mudando todo um futuro que poderia ou deveria existir, mas vira apenas uma possibilidade não concretizada.
E a menos que uma das partes prejudicadas chegue até você para contar, você nunca saberá do mal que causou.
Seria estranho demais um dia você receber uma carta/e-mail/sms/tanto faz, te acusando de algum estrago que você causou na vida de outras pessoas? Seria vingança demais informar a pessoa com a intenção de fazê-la se sentir culpada pelo estrago causado? E, por fim, será que eu (e você e todos nós) não estaríamos sujeitos a uma acusação dessas?

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Trilha Sonora: Flores do Mal - Barão Vermelho. Essa faz parte da minha playlist Of a Broken Heart, em breve num site de compartilhamento de músicas perto de você.