O riso.
Sempre que a vejo dançar ou fazer qualquer outra coisa espontânea e ela se retrai quando nota que está sendo observada, deixo bem claro: "continua, filha! Tá linda!" e sorrio para que ela veja que estou olhando porque gosto e não porque é ridículo (porque, de fato, não é).
Agora, neste exato momento, ela está assistindo a um programa infantil no Discovery Kids e, sempre que ouve um barulho dos instrumentos musicais (é um programa meio musical, tem uma banda, não sei direito), ela começa a dancinha dela, toda animada e desajeitada, exatamente como toda criança faz se não for ensaiada para dançar assim ou assado.
Enquanto a admiro dançando, lembrei de uma cena da minha infância: não sei quantos anos exatamente eu tinha, por volta de 5 ou 6, não mais que isso. Eu estava no aniversário de uma prima minha e, junto de outras meninas da mesma faixa etária, começamos a dançar alguma música da Xuxa que estava tocando. Uma das meninas, acho que minha prima, me falou que eu estava dançando errado, que eu não sabia dançar. Aquilo me deixou constrangida e saí da rodinha. Nunca mais dancei em outras festinhas (só nas festinhas de escola, mas sempre com meses de ensaio e passos decorados com os colegas, sob supervisão da professora).
Passei anos me reprimindo quando ouvia música e queria dançar porque, oras, eu nem sei dançar. Dançar é só ir lá e balançar o corpo como todo mundo faz, como uma criança faz. Mas eu não sei fazer isso. Me disseram que eu não sabia. Então eu não sei e não posso dançar, certo?
Conforme o tempo passou, comecei a beber e isso ajudava na hora de me soltar e dançar. Mas eu sempre tenho a sensação de estar fazendo papel de boba, como se todos fossem bailarinos do Bolshoi Ballet e eu fosse a criança de 4 anos dançando sem o menor ritmo, sem a menor noção do que está fazendo em meio a tantos profissionais e especialistas em movimento corporal.
Acontece que, no fundo, eu sei que não sou assim tão desengonçada. O meu problema não está em braços e pernas descoordenados. Está na minha cabeça, na advertência maldosa que ouvi quando criança e ficou martelando minha memória desde então.
Mais uma vez, como no caso dos traumas sobre o corpo, evito fazer e permitir que façam com a Alice as mesmas coisas que fizeram comigo. Mesmo tendo consciência da origem da minha inibição, não é como um botão de liga e desliga que posso acionar para acabar com a vergonha e sair bailando livre por aí. Leva tempo, envolve álcool sempre que possível, envolve a segurança de estar no meio de uma multidão dançando para que eu não seja o centro das atenções. Mas para a Alice é fácil. É só elogiar e incentivar "Tá linda, meu amor! Você dança muito bem! Continua!" e ela
vai crescer sabendo que pode dançar quando e onde quiser, do jeito que quiser, coordenando ou não os membros do corpo dela, conforme a vontade dela.
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The Fresh Beat Band é o programa que ela estava vendo.
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Trilha Sonora: Fresh Beat Band, Dora Aventureira... Trilha sonora de mãe.
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