domingo, 16 de abril de 2017

Uma Carta de Ex-Amor

Tem aquela música "achei um 3x4 teu e não quis acreditar que tinha sido há tempo atrás..." e ela não me sai da cabeça há dias, desde que eu achei um 3x4 teu perdido (guardado) nas minhas coisas e parei pra pensar no quanto você e eu mudamos e nos distanciamos do que éramos um pro outro e pra nós mesmos. 
Acontece que o universo é essa coisa engraçada que, sem mais nem menos, começa a te jogar indiretas e sinais na cara a todo momento e, veja bem, universo, não estou mesmo interessada nessa história, isso acabou faz tempo, não tem mais nada a ver "issaê", Seu Universo, me deixa, faz favor? Tô feliz, ele também, temos nossas vidas, seguimos caminhos opostos, pára de cutucar o passado, por gentileza? Mas não tem resposta nenhuma e o universo me fez até sonhar com uma situação surreal só pra me mostrar que, veja bem, os caminhos foram trocados, mas ainda estão de alguma forma entrelaçados pra sempre. Os amigos são os mesmos, os interesses são os mesmos, ainda há em ambos o desejo de encontrar num sebo aquele livro raro que só nós dois conhecemos, o bairro da infância ainda é o mesmo, as memórias de algumas das primeiras descobertas serão pra sempre as mesmas e, até onde se sabe, o carinho é uma coisa que ainda existe. 
Percebi que muito do que somos hoje é resultado do que fomos juntos um dia. Esse teu lado esotérico, meio hippie, meio roots de acampar e ver estrelas e se ligar nas coisas da natureza é quase um reflexo do que eu era e você não se ligava muito, embora me acompanhasse com certa curiosidade quando eu te falava dos seres da natureza e das fases da lua. O meu jeito meio seco de amar e evitar demonstrar que me importo é reflexo do que vivi com você, quando eu expunha todo o meu amor pelas paredes e papéis e depois tive que encarar todas aquelas paredes e papéis dizendo coisas que não existiam mais.
Nunca achei que fosse justo que outras pessoas pagassem pelos erros que você cometeu, mas não posso evitar e essa foi a marca que você deixou na minha vida. De um jeito meio errado, eu sei, mas esse foi o jeito de lembrar pra sempre que você esteve no meu caminho por tanto tempo.
Eu só queria te dizer isso: você foi importante na minha vida. Eu aprendi muito com você e também com o que vivi depois de você, enquanto tentava reorganizar meus passos. Você ainda tem um lugar especial nas minhas memórias e sempre que eu ouvir alguém falar de esquilos ou passar pela cidade de Embu, vou me lembrar daquele casal imaturo e apaixonado que fomos um dia. Nos divertimos muito, te amei muito e gostaria de poder agradecer um dia, pessoalmente, por todas as boas lembranças que você me deixou. 
Estou feliz no caminho que segui, imagino que você esteja feliz no seu caminho e, do fundo do meu coração, onde um dia você mandou e desmandou, desejo "que o verão do seu sorriso nunca acabe".

***
Escrevi esse post há alguns meses e, pra evitar conflitos, deixei no rascunho. Ainda bem que não apaguei. Agora estamos livres.

***
Trilha Sonora: A rádio mental tá tocando um medley bem mal feito de Vamos Fazer Um Filme - Legião Urbana com Você Me Encantou Demais - Natiruts.

domingo, 9 de abril de 2017

Eu Sinto Muito

Eu sinto muito. Eu sinto muito o amor e eu sinto muito a dor. Quando eu amo, eu amo com força. Eu me jogo do último andar do amor e caio em queda livre, sentindo o ventinho no rosto, sentindo o corpo pesando rumo ao chão. Inevitavelmente chegarei ao chão. Pode ser que eu chegue ao chão e haja todo um aparato para evitar que eu me quebre toda e pode ser que haja simplesmente o chão. E ali eu me arrebento e também sinto muito a dor. Sinto cada ferida, cada osso quebrado, cada hematoma e, para ter certeza que eu realmente caí, eu aperto e cutuco e arranco casquinhas. Eu gosto de sentir muito. Há um prazer quase masoquista em sentir muito. Porque dói. Mas eu gosto. Eu chego ao meu limite. E chegar ao meu limite é o meu método de esquecer a dor. Ou me acostumar com ela. Como se cada segundo a mais de dor me preparasse para os segundos seguintes, até que eu esteja tão habituada a doer, que não já não importarei ou não sentirei mais nada. Então eu sei que poderei seguir em frente. Não que tenham sumido os sinais da queda. Eles estão lá e alguns serão eternos, mas eu me habituo e não ligo mais pra eles. Passam a fazer parte do meu corpo, como uma tatuagem feita para que eu olhe e me lembre sempre do motivo dela estar ali.
Eu sinto muito. Sempre sentirei muito e isso me deixa mais forte e destemida para as próximas vezes que eu me jogar do último andar do amor. Até que um dia, em uma dessas quedas, sentindo o vento no rosto e o corpo pesado, eu perceba que alguém me deu antes do pulo um pára-quedas pra que eu abra e me sinta segura para, finalmente, ao invés de cair, voar.


***
Trilha Sonora: Until We Fall - Audioslave "Bought everything that sounded good I understand that I've been misunderstood"