sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Clássico balanço de fim de ano

*passando um espanador enquanto falo*
Quando eu escrevia mais, em blogs e diários, fazer um balanço de fim de ano era simples: reler as coisas todas dos últimos 12 meses, reler a lista de metas do ano anterior e ver pra que lado eu, de fato, caminhei.
Geralmente eu caminhava para lados doidos, nem sempre tentando cumprir minha própria lista de metas e desejos.
Até porque, eu fazia a lista em dezembro, mas chegava fevereiro... março, eu já tinha esquecido metade das metas. Eu perco o foco muito rápido para algumas coisas. O que pode ser muito bom em alguns momentos, mas para não perder o foco aqui, outro dia eu volto e explico melhor o quanto perder o foco pode ajudar a viver em paz.
Voltando ao balanço: como o meu hábito de escrever diários e blogs foi engolido pela rotina de mulher adulta, mãe, trabalhadora, estudante (pois é, eu estou terminando a faculdade), esposa/namorada; repensar o meu ano e organizar minha retrospectiva pessoal é um pouco mais trabalhoso. Preciso queimar alguns neurônios tentando lembrar o que teve de marcante em cada mês.
Tenho meus bullet journals e planners que ajudam a lembrar que em maio eu trabalhei que nem burro de carga, mas não tenho muitos registros sobre como me senti nesse período, quais eram os meus conflitos pessoais, o que me fez chorar naquele período (eu choro quase toda semana. Às vezes choro quase todo dia. Hoje mesmo, por exemplo, já chorei), o que me fez gargalhar... Vou saber que no mês de novembro eu estive com um amigo querido, mas quais foram os assuntos que conversamos, quais as reflexões depois da nossa conversa, como me senti na companhia dele... não tenho registros disso.
Esses registros eu fazia aqui, fazia no meu diário. Aqui, como podemos ver (podemos? Tem alguém aqui além de mim?), raramente tem post novo. Meu diário eu tenho me forçado a escrever pelo menos 1 vez por mês e isso tem sido o máximo que consigo mesmo.
Então, pensando em 2023, foi um ano de correria. Tanta correria e tanto trabalho, que eu deixei de lado coisas que eu gostava muito, como escrever.
Porém, me dediquei e investi bastante tempo e dinheiro em um novo passatempo: colorir. Comprei muitos livros do tipo Jardim Secreto, comprei muito lápis de cor, ganhei um kit com 100 cores de canetinhas e pintei muito. Isso me ajudou a não surtar em muitos momentos que meu cérebro estava dando defeito.
Também me dediquei um pouco mais a passar tempo com o Douglas. No dia a dia, ainda mais por não morarmos juntos, muita coisa vai surgindo e servindo de motivo para adiar os momentos a dois. "Hoje não dá porque trabalhei demais, estou cansada". E se eu fosse ceder sempre a esse argumento (que é muito válido, porque eu ando mesmo muito cansada e trabalhando muito), não teria passado tempo a sós com o Douglas. Então, muitas vezes, mesmo com vontade de ficar em casa de pijama, vendo vídeo de caso criminal ou ouvindo ASMR, busquei ânimo no fundo do meu coração e saímos para jantar e lembrar do porquê sermos um casal há 15 anos. 2023, no fim das contas, foi o ano em que eu exercitei o "melhor não, mas bora!".
Esse espírito do "melhor não, mas bora!" precisa ser bem dosado, porque é de bora em bora que você se vê fazendo sempre o que o outro quer e nunca o que você quer. Sabendo que melhor não, preferindo fazer outra coisa, desejando estar em outro lugar, sempre bora, bora, bora... Quando é que você faz o que você quer? Quando é que as pessoas também fazem o que você quer?
E eu consegui administrar isso com maturidade. Entendi que estar em uma relação é falar muitos "melhor não, mas bora", mas também ouvir muitos "melhor não, mas bora". Porque se só um lado está cedendo e agradando o outro, em algum momento isso vai pesar para os dois.
Nessa, de cuidar melhor da minha relação, me vi mais tolerante em relação ao convívio com a minha sogra e, de verdade, me sinto mais leve e de consciência tranquila porque sei que estou fazendo o meu melhor. Entrar em um relacionamento com alguém é entrar em um relacionamento com as pessoas que orbitam esse outro alguém. Amigos, parentes, pai, mãe, irmãos... Não precisa fazer amizade com todos, trocar pulseirinhas, escrever depoimento no Orkut, mas precisa ser gentil, respeitar e aceitar que haverá contato pelo menos em algumas ocasiões. O que custa tornar esse contato um pouco menos desagradável quando não pode ser realmente agradável?
Essa postura de fazer a minha parte em nome do bom relacionamento com pessoas que eu gostaria de nem me relacionar, embora seja trabalhosa em alguns momentos, acaba sendo mais fácil do que administrar tudo o que vem no pacote da inimizade: raiva, mágoa, constrangimento, picuinhas, desprezo... Cansa, sabe? E eu não gosto de me sentir cansada.
E a minha mudança de postura começou ainda em 2022, por causa de uma pessoa que trabalha comigo e eu não suportava. Não me esforçava para ser simpática, não fazia questão nenhuma de ser agradável com essa pessoa. Mas coloquei a mão na consciência e percebi que "Opa! Reformas da previdência vieram e virão, mudanças de governo vieram e virão e eu tenho somente 14 anos de Estado. Sou efetiva e não pretendo exonerar. Vou trabalhar aqui por mais uns 30 anos, se não mudarem as leis e eu tiver que trabalhar até os 95 anos de idade. E o coleguinha que eu não gosto também, porque temos quase a mesma idade e ele tem menos tempo de Estado do que eu. Não quero viver esse clima azedo por tantos anos, diariamente." Foi aí que eu decidi mudar de postura.
Não doeu, mas deu trabalho. Só que o clima melhorou 90%. Não ficamos amigos, ainda tenho muitas críticas e ressalvas com relação a ele, mas conseguimos sentar e almoçar juntos, conversar e fazer favores um pro outro sem parecer falsidade ou uma obrigação imposta pelo trabalho. Resumindo: valeu a pena.
Por isso, ao longo de 2023 decidi colocar isso em prática com mais pessoas. E, novamente, valeu a pena.
Talvez seja um traço de evolução espiritual ou simplesmente maturidade da mulher de quase 40 anos? Não sei, mas alguma sabedoria eu tinha que adquirir com o tempo, não é?
Outra área que precisou ser remodelada e me reiventei para dar conta em 2023: maternidade. Deus do céu! Como é difícil ser mãe de semi-pré-adolescente! E a Alice é um doce de menina, não dá trabalho na escola, é inteligente, é bem educada... Mas as questões pessoais de uma pré-adolescente dos anos 2020 e tantos são diferentes das questões dos anos 90, que eu vivi. Além, claro, de cada pessoa ser diferente da outra e lidar com as próprias questões de modo totalmente diferente de como eu lidava com as minhas.
Minha mãe foi e é uma boa mãe, preocupada, presente e tal. Meu pai idem. Mas agir como minha mãe agiu comigo na adolescência não funciona com a Alice. As demandas são outras, as expectativas dela são outras, os tempos são outros. Os nossos conflitos não são outros: são únicos.
Eu nunca tive problemas com a minha mãe. Não sei muito como agir com a Alice porque não tive o exemplo da minha mãe nesse sentido. O que funciona para resolver conflitos com a sua filha, quando você nunca viu sua mãe resolver um conflito simplesmente porque você não viveu conflitos com a sua mãe? Difícil.
Então, a solução foi e tem sido me reiventar. Me descobrir como mãe novamente, nessa fase que a bebê não existe mais e uma adolescente está sendo gerada diante dos meus olhos. Não posso mais decidir pela bebê, não posso mais colocar as roupas que eu quero na bebê, não posso mais escolher o que a bebê vai assistir na Netflix. Não posso isolar a bebê no meu colo e evitar que outras pessoas tenham contato com ela. A bebê quer ver o mundo, quer conhecer coisas, quer viver experiências que nem sempre são verbalizadas e eu não sei se posso ajudar, se ela quer que eu ajude.
Se eu oferecer ajuda, ela vai se sentir invadida? Vai pensar que eu acho que ela não consegue sozinha? Se eu não oferecer ajuda, porque sei que ela consegue sozinha, ela vai se sentir negligenciada? Vai achar que com a minha ajuda seria mais fácil? Vai evitar tentar porque precisa de mim e eu não estendi a mão?
Ainda não tenho as respostas para nada disso, mas sigo tentando responder (ao mesmo tempo que novas questões vão surgindo e se acumulando na minha mesinha imaginária do escritório da administração da empresa Mãe). 2024 vem aí e já tenho essa tarefa: como ser uma mãe melhor?
Mas ainda estamos aqui, em 2023, e com as memórias que tenho sem consultar diários e bullet journal ou planner, posso dizer que foi um ano bom. Trabalhei muito. Um pouco mais do que gostaria, mas o suficiente para bancar alguns prazeres e necessidades.
Agradeço a Deus (sou uma mulher de muita fé, mas sigo longe de qualquer religião) por ter me dado saúde e ter me permitido passar mais um ano perto das pessoas que amo e que me amam e agradeço a mim mesma por ter me esforçado diariamente para fazer tantas coisas que eu não gosto, mas preciso.
E é isso aí. Ano que vem tem mais. E ano que vem é daqui a pouco.

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Escrevi um baita textão e vou abandonar o blog pelos próximos meses de novo. Não é o que eu gostaria, mas sei que é o que vai acontecer.



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Trilha Sonora: Beija Eu - Marisa Monte. E tocou mais um monte de músicas na Alpha FM enquanto eu escrevia ouvindo rádio.

Um comentário:

Aline Love disse...

Tu sempre será a melhor escritora que eu já conheci!