sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sabedoria de avó

Quando minha avó ficava sabendo que algum conhecido havia morrido, ela sempre dizia "Fulano morreu? Antes ele do que eu.", mas quando era alguém um pouco mais querido, uma morte que causava algum tipo de surpresa em quem recebia a notícia, ela dizia "Para morrer, basta estar vivo".
Essa do "antes ele do que eu", de vez em quando eu uso, em tom de brincadeira. Mas a segunda frase eu carrego como uma verdade muito além do sentido óbvio dela.
Vejo minha avó dizendo isso cada vez que uma notícia de morte me pega de surpresa.
Sempre esperamos que, também na morte, as pessoas usem da boa educação e dêem prioridade aos mais velhos. Primeiro os pais, depois os filhos. Primeiro os avós, depois os netos.
Mas nem sempre o que esperamos é o que acontece. Principalmente com essas coisas que ninguém controla.
Perder um pai ou mãe, graças a Deus, não sei como é. E espero demorar muitos, muitos e muitos anos para saber (aliás, Deus, se puder, não me mostre nunca como é isso). Conheço a dor de perder os avós. Já se foi uma bisa, um avô e duas avós. E dói. Muito.
Aí, o que se deu foi que essa semana perdi uma prima. Confesso, não era das mais próximas. Meu convívio com ela resumiu-se mais aos encontros em festas de família e raras visitas à casa dela. Posso contar nos dedos (talvez de uma mão) as vezes em que conversamos por mais de 10 minutos.
E poderíamos ter tido mais contato até, levando em consideração que ela era apenas 5 anos mais nova que eu. E, por isso, chorei. Não pelo contato mais próximo que nunca existiu, mas por sentir que a morte está tão perto que pode, a qualquer momento e sem nenhum tipo de aviso prévio, levar um dos meus irmãos, amigos ou namorado que têm, todos eles, idade de viver muito, não de morrer.
Da minha morte, sinceramente, não tenho medo. Sou egoísta demais para pensar na dor que as pessoas sentirão quando for a minha vez de partir. Penso apenas na dor que eu vou sentir se eu perder alguém que eu amo tanto, como os pais e irmãs e amigos dela estão sentindo agora por a amarem tanto.
Vi pessoas que poderiam ser eu chorando pela melhor amiga, pela irmã, pelo namorado... Me vi chorando pela dor dos outros, que talvez seja a mesma dor que um dia eu seja obrigada a viver.
E, mais uma vez, vi minha avó (que era a bisa dessa minha prima) dizendo que para morrer, basta estar vivo.

***
Trilha Sonora: Indique-me uma.



2 comentários:

Dread disse...

Existem vários tipos de dores. A dor de quem chutou a quina de um móvel com o dedinho do pé, a dor de quem teve que extrair um dente... Mas nenhuma dor se compara a perder alguém, um parente próximo ou não, um amigo ou um colega. A dor de se perder um parente próximo ou um parente distante, é a mesma, só que muitas vezes a sentimos com menos intensidade.

Perder alguém sempre é duro e difícil de se lidar.

Eu perdi o meu tio, não sei quantos anos fazem, mas até hoje me dói no peito essa dor que tanto me faz falta. Perder alguém sempre é doloroso.

E mais doloroso ainda, seria perder você. Se hoje nós terminássemos, iria doer mas eu saberia que você ia continuar aí, viva e vivendo. Se hoje eu perdesse você, se Deus resolvesse que sua hora tinha chegado, a dor iria ser imensa, por que eu sei que iria demorar muito até nos encontrarmos de novo.

Dor é dor, as vezes mais forte, as vezes mais fraca...

maray disse...

às vezes eu ouço gente falando que não tem nada a perder, pois é ou pobre ou desapegado de qualquer coisa. Esquecem-se que temos a vida. E, como diz vc e tua avó, para morrer basta estar vivo. Ou como dizia alguém, desde que a gente nasce a gente vai morrendo um pouco, todos os dias. Mas a vida é, pelo menos pra mim, tudo! Por isso eu tenho tanto medo de morrer. Adoro viver. E adoro que aqueles que eu amo também vivam. Já perdi pai, mãe, irmão, vó. Foi duro. Com a idade avançando, vou perdendo cada vez mais gente. E nunca é fácil. Só espero que eu morra antes dos que mais amo. E não dê muito trabalho pra eles. Nem muita tristeza. Não gosto de causar tristeza em ninguém, afinal.

bjs