terça-feira, 26 de julho de 2011

Daqui pro mundo

Há 11 anos eu conheci o Bruno. Nos conhecemos na escola, 1º colegial, numa época um pouco complicada pra mim e, creio, pra ele também. Logo nas primeiras vezes que nos falamos descobrimos amigos e gostos em comum.
Passávamos a manhã toda juntos, conversando e rindo e lendo tarô e lendo mão e falando dos nossos problemas e observando o mundo ao redor e sendo amigos.
Nos mantivemos em contato diário pelos 3 anos do colegial. Final de semana, quase sempre eu ia no portão dele convidar pra dar uma volta. E nossa voltinha consistia em ir e voltar e ir e voltar e ir e voltar pelas mesmas ruas de sempre, as mesmas vielas e as duas únicas avenidas no bairro onde morávamos. E a gente conversava muito. E a gente fazia muitas piadas bestas que só nós entendíamos, com referências ao nosso dia a dia, às músicas e aos Simpsons.
Ele tinha outros amigos e eu também tinha amizades além dele. E amizades que, inclusive, na maioria das vezes não agradava ao outro. Nunca por ciúmes, apenas por implicância com as tais amizades. Até porque, uma coisa que sempre tivemos em comum foi a implicância. Eu implicava com os amigos "estranhos" dele e ele implicava com os meus amigos infantis. Mas ele era tão estranho quanto os amigos dele e eu tão infantil quanto os meus amigos só que, entre nós, sei lá por qual razão, a coisa dava certo.
Um dia eu fui embora. Doeu me despedir dos meus amigos e do bairro onde morei por anos, mas de todas as despedidas, a que mais me fez chorar sem vergonha nenhuma das lágrimas foi a dele. Lembro que era sexta-feira,  fazia sol, mas não estava calor. Ele foi na minha casa e passamos algumas horas conversando como se nada estivesse acontecendo, como se minha casa toda não estivesse dentro de caixas na sala do apartamento.
Demos risada como sempre, fizemos piada como sempre e ele disse que precisava ir embora. Fui com ele até a portaria e na hora de dizer tchau, nos abraçamos e choramos muito. Como se não fôssemos nos ver nunca mais, como se eu estivesse perdendo o meu melhor amigo. Fizemos alguma piada final e ele se foi.
Fiquei alguns anos morando em outra cidade, mantivemos contato por cartas e todas as vezes que eu vinha pra cá, fazia o possível para vê-lo. Ele foi me visitar uma vez e passou uma semana na minha casa.
Com o tempo, nossa vida mudou. Eu voltei a morar na mesma cidade que ele, mas nunca mais nos vimos. A vida corrida, os novos amigos, ele com a namorada dele, eu com o meu namorado, cada um com seu trabalho e casa para cuidar. Mas nunca deixei de considerá-lo um dos meus melhores amigos.
Semana passada eu soube que ele estava de mudança. Ia sair do país para estudar longe, longe.
Fiquei feliz pela conquista dele, mas senti a mesma dor de quando nos despedimos pela primeira vez. Senti como se eu nunca mais fosse vê-lo, como se eu estivesse prestes a perder o meu melhor amigo.
Fui almoçar na casa dele sábado. Rimos, conversamos, lembramos de coisas de 10 anos atrás, dei um abraço nele, desejei boa sorte e boa viagem e fui embora.
Ninguém viu, mas eu chorei no metrô. Chorei quando cheguei em casa e chorei hoje de manhã enquanto esperava o ônibus e pensava que, enquanto eu estivesse trabalhando, ele estaria indo embora. Chorei porque não vamos poder dizer mais "precisamos marcar de nos ver" e nunca de fato marcarmos nada, porque ele estará longe demais pelos próximos anos. Tão longe que nem sei dizer quando nos veremos novamente.
A dor é quase como a de perder o melhor amigo, com a diferença que eu consigo sorrir quando penso que, desta vez, o mundo está ganhando o meu melhor amigo enquanto ele ganha o mundo.
Boa sorte e boa viagem, Bruno!

***
Trilha Sonora: You Learn - Alanis. Porque foi a nossa primeira coisa em comum e eu sempre vou ouvir e lembrar dele, que traduzia as músicas quando inglês ainda era um mistério pra mim e não existia o Google Translate.

2 comentários:

maray disse...

sabe, eu também achava isso, mas aos poucos descobri que a gente não tem a menor, eu disse, a MENOR idéia do que o futuro nos reserva. Eu tb sempre gostei de tarô e I-ching, mas nunca deixei de lado o que eu chamo de vida-futebol, ou seja, a noção de que a vida é uma ...caixinha de surpresas!!

beijão!

Anônimo disse...

Dessa vez não é dor que você está sentindo. É orgulho dele, é invejinha da boa.
Isso dói também.
Mas faz sorrir.