sábado, 14 de janeiro de 2012

Dear Young Me

Uma coisa que você deve saber e um bom jeito de começar esse novo contato é dizer que você tem uma tendência a se empolgar muito com certas coisas e depois de algum tempo, não deixar de gostar delas, mas passar a sentir uma imensa preguiça de levá-las adiante.
Isso de bater papo com você, Camila de 8 anos, é um exemplo. No começo me pareceu uma idéia sensacional te contar as coisas da sua vida futura, mas depois comecei a sentir uma enorme preguiça de estragar as surpresas boas e te alertar quanto às ciladas da vida.
Em algum momento da sua vida, você vai passar desse estágio de mini-leitora compulsiva e se tornará uma moça que gosta de escrever. Vai escrever em diários. Muitos. Vai escrever em paredes e portas de banheiro da escola quando estiver apaixonada e este será um método vândalo-fofinho de trocar juras de amor com aquele garoto magrelo que você vai conhecer daqui um tempo e se apaixonar e blá blá blá. Acho que já falamos dele. Se não falamos, aguarde o dia 28 de novembro de 1998. Vai valer a pena.
Mas não era sobre isso que eu ia falar. Era sobre as coisas que você enjoa no meio do caminho.
Você nunca será uma atleta e a natação que você largou aos 2 anos será apenas o começo de uma série de coisas que você abandonará ao longo dos seus 25 anos (que é só até onde eu posso te falar no momento).
O balé que só durou um dia também vai ficar como uma lembrança e nunca será um desejo na sua vida. Você não nasceu para essas coisas de menininha, aceite. Aliás, uma correção: coisas de menininha na sua vida só existirão em momentos muito específicos, como o seu baile de 15 anos e as formaturas de 8ª série e faculdade que, adivinhe! você vai abandonar.
É que você tem essa tendência de não se sossegar em canto nenhum, de não se acostumar com coisas que se mostram eternas. Tudo que se mostra longo demais, sério demais, duradouro demais te assusta.
E é isso que vai te afastar do curso que você vai escolher.
Não acho que você deva fazer as coisas para agradar aos outros, mas se puder não esquecer de uma coisa que vou te contar, talvez você encontre ânimo para se formar de verdade, mesmo que seja só pelo diploma. É o seguinte: o sonho do seu avô é que você estude outros idiomas para que ele possa um dia viajar o mundo com você sendo a intérprete dele. Não tenho muita certeza, mas acho que isso foi um fator decisivo na hora de escolher estudar francês na faculdade (e japonês durante um semestre, mas já adianto que seu cérebro vai fritar com tantas regrinhas).
Só que esse desejo dele vai se perder dentro de você e aí a coisa toda vai desandar e você vai largar o curso na primeira oportunidade que você tiver.
A primeira pessoa que vai te falar o nome desse curso, como sendo a sua cara, será um amigo seu que ainda não entrou na sua vida, mas quando entrar, nunca mais vai sair. Preste atenção e pense bem antes de escolher. Mas eu concordo que é mesmo a sua cara.
Você terá outras opções e te garanto que nenhuma opção estará além da sua capacidade. Você herdou do seu pai um cérebro afiadíssimo para áreas de humanas. Sua mãe, infelizmente, não te presenteou com os genes matemáticos dela e você vai se foder bastante na hora de passar de ano nas matérias da área de exatas. Um conselho: aprenda a colar.
Uma notícia triste agora: estou com 25 anos e ainda não sei o que fazer da minha vida profissional, não tenho certeza de qual seja o meu talento e não sei se posso ganhar dinheiro fazendo algo que eu goste. Se você puder, então, esforce-se um pouco mais para descobrir isso porque te digo que é angustiante a sensação de ver a vida passar e nenhum talento que sirva como emprego surgir.
E o ponto principal disso tudo é que você deve ter algum problema de concentração porque quando eu comecei a escrever isso, eu queria te dizer algo totalmente diferente do que saiu, portanto, procure ajuda enquanto ainda pode corrigir alguma coisa. Ou não.

***
Trilha Sonora: Blowin in the Wind - Bob Dylan.

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