O episódio do prego me fez pensar de forma mais clara em um fato que tenho observado há tempos, desde o surgimento e popularização das câmeras digitais e a possibilidade de expor infinitas fotos na internet.
Acho curioso quando as pessoas viciam tanto em fotografar (com a câmera do celular antiguinho, que seja), que saem tirando fotos de coisas que ninguém quer ver e que elas mesmas não teriam motivo para querer registrar (e mostrar) se não fosse toda essa facilidade e "banalização" da fotografia.
Pensem: há uns 15 anos, mais ou menos, você tirava fotos e montava álbuns com os melhores momentos de uma viagem, tinha fotos com amigos, namorado, família, bicho de estimação... Mas não tinha nenhuma foto da comida deliciosa que você comeu em um restaurante de beira de estrada que ninguém conhece mas todo mundo deveria conhecer a caminho de Salvador onde fui passar minha lua de mel e onde também tirei outras centenas de fotos da lua e do vendedor de correntinhas artesanais e do quarto onde me hospedei e do mendigo que resolvemos levar para jantar e da mulher que estava cochilando e babando no ônibus e do... Entendem o que quero dizer?
Hoje em dia, com a facilidade de fotografar, armazenar e postar as fotos sem a necessidade de comprar filme, colocar na câmera (e nem todo mundo sabia colocar direito um filme na câmera), bater as fotos e pagar para mandar revelar e depois ainda ter que mostrar pra pessoa por pessoa o tal álbum das fotos da lua de mel/batizado/aniversário/viagem de formatura, as pessoas simplesmente desperdiçam pixels tirando foto de um prato de comida que foda-se se estava uma delícia, quem comeu foi você, não eu! Perdem tempo tirando auto-retrato (os famosos egoshots) com biquinho na frente do espelho só para mostrar que comprou um novo par de cílios postiços que ficou bapho, gata!
Já tirei auto-retrato, sim. Já tirei foto de prato de comida também. Já tirei foto do meu pé só porque sim.
Só não sou de ficar expondo tudo isso sem mais, nem menos. Até posto uma foto inútil ou outra, mas sempre penso "alguém quer ver? É necessário?".
E, de uns tempos pra cá, refletindo mais profundamente sobre o assunto, cheguei à conclusão que uma boa pergunta a ser feita antes de tirar uma foto é pensar "eu gastaria uma das 42 poses de um filme tirando uma foto dessas se não fosse uma câmera digital? Eu colocaria essa foto no álbum que mostraria para as visitas?". Quase sempre a resposta é "não, não gastaria".
Longe de mim ditar as regras de como as pessoas devem ou não gastar seu tempo e os pixels e pilhas de suas câmeras, cada um registra o que quer e compartilha o que tem vontade de exibir, mas pensem nisso e vejam quantas fotos você tem no seu computador, mas nunca teria em um álbum de fotos reveladas em 1 hora nas Fotóticas da vida.
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O episódio do prego me fez pensar nesse assunto das fotos porque, hoje em dia, a maioria das pessoas teria o instinto de tirar uma foto com o celular e postar no Facebook reclamando da qualidade da comida e ameaçando Deus e o mundo de processo. Eu só tive o instinto de continuar comendo mesmo, porque eu estava com fome e a comida estava ótima.
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Trilha Sonora: De uns tempos pra cá passei a ouvir diariamente, antes de vir trabalhar, um programa de rádio com a minha mãe onde só toca música gospel e agora SEMPRE tem uma musiquinha de Deus na minha cabeça. Hoje tem uma aqui que eu só lembro de um verso que diz "vai ter uma festa no céu".
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
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Um comentário:
acho que foto virou brinquedinho. Antes era coisa séria. Sabia que havia fotos de gente morta? Não, não estou falando de guerras ou noticiários policiais. Estou falando de gente morta mesmo. Ali, no caixão. Meus pais tinham várias. Acho que foram pessoas que poucas fotos tiraram na vida - era caro e raro - e, ao morrer, os parentes quiseram ter alguma recordação. Estranho como me lembrei disso agora. Meu deus, quando eu morrer ninguém tire uma foto de mim. Não sem antes maquiar... :)
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