domingo, 28 de setembro de 2014

Digitais

Sempre me achei muito especial por ter uma impressão digital em forma de S. Achava que só a minha era assim e me orgulhava de ter um dedão tão legal e alfabetizado.
Até que um dia, não me lembro como, descobri que todo mundo* um monte de gente tem a impressão digital assim, basicamente em forma de S e o que diferencia uma pessoa da outra, a verdadeira impressão digital que se analisa minuciosamente; são riscos menores e quase imperceptíveis que compõem o tal S que eu pensava ser só meu.
Penso que seja assim com as pessoas. A gente acha que uma pessoa é única por causa da beleza, da simpatia, do estilo, do que ela sabe fazer. Mas não. As pessoas são basicamente as mesmas porque, mesmo o mais raro dos dons ou belezas, podem ser encontrados em outras pessoas pelo mundo.
O que torna uma pessoa única é o cheiro da pele dela que ninguém mais tem igual, é a voz dela que gravador nenhum é capaz de captar perfeitamente, é o contorno dos lábios que batom nenhum pinta completamente, é o jeito doce ou agressivo de olhar... mas, mais que toda essa beleza e graça invisíveis, o que torna as pessoas tão únicas e especiais é o que elas nos causam com um toque, um alô fora de hora, as borboletas que se agitam mesmo depois de anos adormecidas no estômago.
O que torna alguém único é, mais que qualquer coisa, o que ela é capaz de fazer com a minha vida depois que ela se vai.
Só a minha impressão digital em forma de S não pode ser alterada. O resto todo, quem eu sou, o que eu quero e as lembranças que ficam; nada disso voltará ao lugar nem em um milhão de anos, nem com um milhão de retornos e sensações únicas e arrepios inéditos.
Só eu sei ler essas impressões digitais que elas deixam na minha alma.


*Todo mundo ou quase todo mundo? Dei uma pesquisada na Wikipedia e parece que existem 3 padrões básicos, então nem todo mundo tem o dedão alfabetizado em S como o meu. Me sinto um pouco mais exclusiva outra vez com o meu polegar especial.


***
Trilha Sonora: Biquini Cavadão se recusa a encerrar o show de uma música só na minha cabeça. Há 7 dias.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Paralelos

Acordou com a música que vinha do rádio relógio ao lado da cama. Quem ainda usa rádio relógio hoje em dia? Era a pergunta que sempre fazia quando ele despertava de manhã e ela não queria acordar, mas não podia dormir mais cinco minutinhos porque não sabia direito como usar a função snooze do bendito rádio relógio. Sabia consertar eletrodomésticos da mãe e orgulhava-se de trocar as próprias lâmpadas queimadas, mas não sabia usar um botão de um rádio relógio tão velho.
Levantou sem abrir direito os olhos, sentou na cama esticando o braço para alcançar o botão, mas interrompeu o movimento quando percebeu qual era a música que estava tocando.
Lembrou-se que era domingo e não entendeu o que o despertador estava fazendo tocando uma hora daquelas, em pleno domingo. Domingo era sagrado. O dia do sagrado sono até meio dia. Acordar com fome e almoçar o resto da janta. Uma fatia de pizza gelada, um resto de yakissoba frio, um pedaço de lanche trazido da rua na noite anterior. A regra era não se esforçar, não sair de casa, não atender ninguém e não fazer nada antes da uma da tarde. Funcionava assim há anos, não fazia o menor sentido aquele despertador tocando agora. Pelo menos a música era boa. Apesar de fazê-la lembrar de um passado há tanto esquecido e enterrado, pelo menos a música era boa.
- 7:00am. Que loucura foi essa de programar esse despertador pra uma hora dessas? Só terminar essa música e volto a dormir. Deve estar com defeito. Vou terminar de ouvir e desligar da tomada. - disse baixo, enquanto voltava a se deitar, jogando os braços por baixo do travesseiro e esticando as pernas para ocupar a cama toda.
- Você vai voltar a dormir? Não prometeu que hoje começava a caminhar?
Por um segundo que pareceu um minuto encarou aquele vulto na sua cama, falando com ela de forma tão natural, como se tivesse sempre estado ali. A voz era conhecida, mas não fazia o menor sentido. "Como ele entrou aqui?" pensou enquanto tentava se lembrar de qualquer objeto pesado o bastante ou pontiagudo que pudesse usar para se defender dele. Mas ele não parecia uma ameaça. Ele nunca tinha sido uma ameaça. Apesar de não terem dado certo juntos e de na última vez terem brigado tão alto que as luzes da casa do outro lado da rua se acenderam no meio da madrugada, ele nunca foi uma ameaça. Ela era uma ameaça pra ele. Já havia arremessado coisas na direção dele em mais de uma ocasião. Ciúmes, desentendimentos por culpa de amigos, mau humor. Acontecia pouco, mas acontecia. E ele sempre, com a maior calma do mundo, desviava dos objetos voadores e ia embora. Voltava ou ligava horas depois para conversar e ela sempre pedia desculpas, jogava a culpa nele, mas pedia desculpas. Não queria machucar, não queria acertar, não queria que ele fosse embora. Até que um dia ele desviou de um mini-dicionário, foi embora e não voltou mais. Não ligou. Não apareceu mais nem para buscar as coisas dele ou devolver as coisas dela.
Ela esperou por 2 dias. Pensou em ligar, mas não ligou. Pensou em mandar um e-mail, mas não mandou. Pensou em ir pessoalmente até o trabalho dele no meio do dia, na quarta-feira seguinte, mas achou que seria inconveniente demais interromper o expediente dele para brigar por ele ter sumido tantos dias. E no trabalho dele ela não poderia gritar ou bater portas. "Se ele foi embora, ele que volte. Ele sempre volta.". Mas ele não voltou.
Durante algum tempo ela ainda pensou que fosse chegar em casa e encontrar com ele na porta, esperando por ela, com uma desculpa qualquer para justificar o sumiço. Mas já havia se passado 3 meses e ninguém nem tinha notícias dele. Só sabiam que ele continuava trabalhando no mesmo lugar, morando na mesma casa. Mas havia sumido dos bares que frequentava e não dava as caras há muito tempo nas casas de amigos em comum.
Ela nunca perguntava diretamente dele, mas vez ou outra conduzia as conversas de forma que alguém tocasse no nome dele, esperando alguma notícia. Mas as pessoas normalmente perguntavam dele pra ela ao invés de dar o paradeiro do fugitivo.
Chegou um dia, quase 1 ano depois, que ela desistiu de esperar. Pensou que ele talvez tivesse arrumado outra, tivesse ido embora do país, tivesse conhecido outro cara e se descoberto gay. Qualquer desculpa fazia sentido para explicar o sumiço.
Ela evitava apenas pensar que ele estava cansado das brigas, do descontrole, da instabilidade emocional que ela vivia e descarregava nele. Evitava pensar que a culpa era dela. Não era. Ele devia um pedido de desculpas. Mas depois de tanto tempo, deixou pra lá. "Que esteja feliz, pelo menos", ela pensava. Mesmo que no fundo ela sempre completasse com um "...e sozinho".
Depois de tantos anos juntos, não conseguia aceitar a idéia de que ele pudesse se interessar por outra, que ele pudesse estar com outra, beijar e ir pra cama com outra. Ela não se via com outro também. Pensava que não conseguiria mais ficar nua na frente de outro cara que não fosse ele. Sentia pavor de pensar em acordar no meio da noite, ainda sem se vestir e deparar-se com alguém na cama que não fosse ele. Não teria coragem de perguntar, rindo como sempre fazia, onde estava a calcinha dela. E sabia que nunca mais ouviria a resposta "pra quê vestir se vamos tirar de novo daqui a pouco? Volta pra cama..." com aquela voz sonolenta e sexy que ele tinha quando acabava de acordar.
Aquela voz... Aquela voz estava ali, no escuro do quarto dela, falando com ela, na cama dela. Aquela voz. "Como ele entrou aqui?" e ainda não entendia o que estava acontecendo.
- Que dia é hoje?
- Hoje é... Do mês eu acho que é 14. Domingo. Por quê? Deixa eu ver no celular. Pega no bolso da minha calça aí no chão.
Ela sempre perguntava o dia quando, nas manhãs de ressaca, queria se livrar de alguma companhia indesejada que acabava passando a noite ao invés de seguir no primeiro táxi às 4 da manhã. Depois de tanto esperar, ela voltou a sair, conheceu outros caras legais, levou alguns para a casa dela, fez o que quis fazer e sempre, inevitavelmente os despachava com uma desculpa qualquer para que eles não dormissem lá ou ficassem mais que o necessário. Não queria aquele incômodo de preparar café da manhã ou o constrangimento de acordar com um café na cama e um pedido de namoro às 8 da manhã. É difícil dizer não antes do meio dia e ela não gostava de parecer grosseira com desconhecidos. Quando acontecia de pesar demais o sono, um tipo de despertador interno a fazia acordar antes deles e ela se vestia correndo, fazendo algum barulho no quarto. Derrubava um desodorante ou chutava um banquinho de forma que qualquer narcoléptico acordasse no susto e emendava na pergunta chave, "que dia é hoje?" para em seguida fingir um compromisso qualquer, alguém chegando de viagem no aeroporto ou na rodoviária e ela precisava se aprontar pra buscar a pessoa, "infelizmente você não vai poder ficar, mas me liga, vamos sair de novo um dia desses...". E nunca mais.
Mas perguntar o dia para ele não foi uma maneira de começar o teatro para livrar-se dele. Foi um medo de aquilo ser um sonho, medo dele de repente responder 31 de fevereiro, se transformar em uma gaivota azul e sair voando pela janela aberta.
- O que você está fazendo aqui?
- Quê?
- Como você chegou aqui? O que você está fazendo aqui?
- Eu? Estou acordando, ué. Eu costumo fazer isso depois que durmo por algumas horas. Você tá bem? Tá dormindo ainda, né? Vem cá, deita aqui...
- Como você entrou aqui? Desde quando está aqui?
- Entrei com você, ontem, depois que fomos ao mercado e estou aqui desde a semana passada, quando estourou aquele cano no meu banheiro e você disse que eu poderia ficar aqui com você. Deita aqui, volta a dormir.
- Cano? Que cano?
Ele riu e enquanto a abraçava, pediu mais uma vez que ela se deitasse para voltar a dormir.
Ela deitou, mas não fazia o menor sentido. Ficou pensando o que ela teria bebido ou usado sem perceber na noite anterior. Só podia estar sonhando, só podia ser uma ressaca depois de 1 semana alucinada. "Como assim? Ele está na minha casa há dias e eu nem me lembro?". Se estava ficando louca, precisava ao menos fingir estar sã para evitar uma internação. Se estava sonhando, precisava se manter no controle daquele sonho. Entrou no jogo dele. Deitou na cama, deu um beijo nele meio desajeitado e percebeu que, com tanto tempo de saudade e distância, já tinha se esquecido como era o arrepio que sentia quando os lábios deles se encontravam.
- Me desculpa?
- Hmm... Por quê?
- Por tudo. Me desculpa?
- Não sei o que é esse tudo, mas se você está arrependida, desculpo, sim. Eu sempre te desculpo.
A música terminou e, antes de puxar a tomada do rádio-relógio, ela só teve tempo de cantar sorrindo o finalzinho "em algum lugar do tempo, nós ainda estamos juntos Pra sempre, pra sempre ficaremos juntos". Se fosse um sonho, que pelo menos terminasse bem. Se fosse uma nova chance, que pelo menos recomeçasse com uma promessa.


***
A idéia desse conto surgiu enquanto eu ouvia essa música. Não consegui escrever de uma vez só porque as idéias sempre me procuram quando preciso ir dormir, então fiz quase todo no sábado de madrugada e deixei pra terminar na terça-feira, quando tenho 2h livre (por incrível que pareça, no trabalho).
Se ficou muito ruim, perdoem-me. Foi minha primeira vez arriscando um texto totalmente de ficção. Mas saiu tão fácil e tão natural, que achei melhor não esconder. =)


***
Trilha Sonora: Em Algum Lugar do Tempo - Biquini Cavadão. Essa música sempre mexeu demais comigo, mas depois desse conto ela ganhou um status diferente na minha playlist "músicas de dor de amor".

domingo, 21 de setembro de 2014

Cardiopatias

Essa semana me perguntaram no trabalho:
- Nossa! Coração dói? Tô sentindo uma pontada aqui no peito.
Respondi:
- Até onde sei, não dói. Ou não deveria doer, né...
A pessoa devia estar perguntando "cardiologicamente" falando, referindo-se a uma dor que poderia ser tanto um anúncio de infarto quando gases. Quase sempre são gases.
Mas respondi pensando na dor que eu ando sentindo mesmo. Aquela dor que não deveria existir, mas insiste em doer. Aquela dor que não deveria existir, porque em algum momento te juraram que não doeria, mas dói. Em algum momento te imploraram para acreditar que nunca doeria, mas dói.
Todo problema cardíaco tem remédio. Mesmo que não tenha cura, tem remédio, tem dieta, tem tratamento, tem exame para detectar e prevenir. A dor que sinto não tem. Não tem médico que cure, não tem remédio que mascare, não tem tratamento que controle, não tem exame preventivo. Ela vem e dói. Só dói.
Um dia deixa de doer ou a gente acostuma com aquele incômodo. Ainda não sei bem o que acontece. O lado ruim (e tem lado bom?) desse tipo de problema do coração é que ninguém sabe explicar nada e todos os casos são inéditos. São sempre dores únicas, mesmo que elas pareçam ser as mesmas.
Só não deixam de doer. Doem muito.


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Trilha Sonora: Juro que tem cantigas de roda tocando na minha cabeça num looping infinito e irritante. "da abóbora faz melado do melão faz melancia" ou alguma coisa assim.

domingo, 14 de setembro de 2014

6 on 6 #3 - Atrasadíssimo

Agosto não é o mês mais divertido do ano para a maioria das pessoas, mas pra mim foi bem tranquilo. Agora, pra compensar, setembro tá vindo desabando na minha cabeça. Um forninho atrás do outro e eu tentando segurar tudo sozinha. Não está fácil ser eu. Só digo isso.
Por essas e outras, meu 6 on 6 está atrasado em muitos dias. Mas tá saindo agora e vamos em frente, que uma lição que estou tendo da vida essa semana é essa: sempre em frente, sem parar.

A inspiração para esse mês foi Cores.
Eu não tenho uma cor preferida, mas uma amiga observou há algum tempo que gosto muito de coisas de bolinhas. Acho que por causa da minha mania de joaninhas, acabei desenvolvendo um gosto maior por coisas com estampa de bolinhas.
Pensando nisso, juntei algumas coisas nesse padrão e mãos à obra:

Isso é um protetor de escova de dente em formato de joaninha. Minha coleção de joaninhas tem quase tudo o que se possa imaginar.

Uma das minhas paixões mais recentes: decotapes. Ou durex colorido, pra simplificar. Comprei montes e montes deles esses dias e, apesar de virem cores e modelos sortidos, vieram alguns de bolinhas. Amei!

O kit de quarto que a Alice ganhou de uma amiga minha é todo assim: rosa com joaninhas e a faixa vermelha de bolinhas pretas. Tá meio manchado e a Alice fez o favor de roer a bolinha das tampas, mas ainda tá bonitinho.

Porta-cartões: coisa mais simples e útil e de joaninhas, claro. E, olhando de repente, parece que são só bolinhas vermelhas.

Acabo passando minha mania de bolinhas para as coisas que a Alice usa. Aqui, apenas 2 dos muitos laços e enfeites de cabelo que ela tem. E muitos deles são... de bolinhas.

Essa almofada tem uma estampa da Moranguinho do outro lado. Comprei porque a Alice viu e cismou que era da Barbie (e porque custou só R$ 10,00 na Pernambucanas). Acabou que as cores dela combinaram com as outras almofadas e os adesivos de parede que tenho aqui. Pra ficar mais bonitinho, tento comprar os lençóis sempre nesse padrão de cores rosa/lilás/roxo.

Esse foi o meu 6 on 6 atrasado. Aproveita e vai dar uma olhada no das outras meninas:
Marô
Raquel
Ana Luiza
Marta
Sabrina 


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Trilha Sonora: Amanhã ou Depois - Nenhum de Nós. Da série "músicas aleatórias que fazem muito mais sentido agora".

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Meme: Casa em Chamas

Esse mês o Rotaroots veio cheio de temas legais e, eu que queria fazer todos, acabei me enrolando e só vou conseguir participar de alguns (ou só esse).
Escolhi, pra começar, o seguinte:
Este foi um dos temas do mês passado no Rotaroots, mas me enrolei tanto com tantas coisas, que acabei escrevendo o post todo e não publiquei porque não tive tempo de fazer as fotos, que eram parte da proposta. Como já passou a data, vai sem fotos mesmo.
"Selecione o que você salvaria na sua casa caso ela estivesse pegando fogo, fotografe e conte o porque você os salvaria."
Já passei por um incêndio e, graças a Deus, não foi na minha casa e nem chegou a machucar ninguém (foi na escola onde eu trabalhava, em horário de aula, mais de 400 alunos, uns 30 funcionários e professores em pleno horário de aula e expediente administrativo). Eu, como responsável por prontuários e vida funcional do povo todo, saí catando tudo o que meu braço aguentou carregar junto com uma professora que se recusava a sair do prédio e deixar pra trás anos e anos de documentos dela e dos colegas. Confesso, se não fosse o apelo dela, eu teria saído junto com todo mundo, logo atrás dos alunos. Mas, né? Consciência não me deixou sair, então dei meia volta e fui lá abrir armários enquanto a fumaça invadia minha sala.
Cara! É um negócio desesperador.
Espero que ninguém passe por isso e, principalmente, espero que minha casa nunca pegue fogo, mas entrando na brincadeira, vamos ver qual seria minha estratégia:
Obvio que a primeira coisa a fazer seria tirar minha filha do meio do perigo, sem nem pensar em documentos, bens materiais ou telefone dos bombeiros. No máximo pegaria minha bolsa, se ela estivesse por perto, rezando para ter algo útil nela.
Mesmo levando a Alice para bem longe do fogo, eu provavelmente não seria corajosa de entrar na casa em chamas novamente e aí perderia tudo que tenho em casa, mas vamos mudar o cenário então.
Suponhamos que a Alice já tivesse sido tirada por outra pessoa ou que não estivesse em casa no momento do incêndio. Eu pensaria de forma prática e, como não tenho mais que 2 braços, usaria o carrinho de bebê da Alice para amontoar o máximo de coisas possível e correr. Para a minha sorte, é um carrinho enorme e eu poderia facilmente colocar nele:

1 - Meu notebook
Não terminei de pagar ainda e demorei muito tempo para comprar. E com ele a salvo, eu posso me distrair jogando The Sims e ouvindo música e esquecer que minha casa pegou fogo.

2 - Minha bolsa
Dentro dela sempre tem meu RG e a certidão de nascimento da Alice. Documentos são fundamentais para se cadastrar em programas sociais e conseguir abrigo depois de ficar sem casa para morar. Também tem meus cartões de crédito que não ajudam muito porque tô sempre sem limite, mas né, faz de conta que nesse cenário hipotético eu não sou a louca das compras.

3 - Roupas da Alice
As roupas dela são separadas por estação pra facilitar no dia a dia, mas na hora do desespero, eu tiraria as gavetas e viraria tudo no carrinho. As minhas roupas eu não me importaria de perder tudo, porque tô precisando renovar meu guarda-roupa faz um tempão e nem tenho tanta roupa mesmo, então "tatu do bem" deixar queimar meus trapinhos.

4 - Carteira de vacinação da Alice
Já parou pra pensar o trabalhão que dá provar que você tem todas as suas vacinas em dia? Melhor não arriscar. E junto com as vacinas, tem anotado o desenvolvimento dela desde que ela nasceu, datas das consultas médicas, peso e altura.

5 - Fotos
Tenho muita foto de máquina analógica, relíquias de família mesmo e é o tipo de coisa que se você perde, chora pra sempre. Pra ajudar (ou atrapalhar, nesse caso de perder tudo), comprei uma máquina tipo Polaroid e tenho mais um monte de mini-foto que tirei com ela recentemente. Como cada foto sai a um custo de mais ou menos R$ 2,00 acho melhor eu colocar também no carrinho de compras bebê.

6 - Instax Mini
A maquininha das fotos caras. Ainda estou in love com ela e não quero deixar que ela fique preta ou vire cinzas. Vai pro carrinho, então!

7 - Caderno de Recordações
Estou fazendo para a Alice um caderno de recortes, colagens e fotos com cartas que escrevo para ela ler no futuro. Não tem muita coisa ainda, mas o pouco que já tem, foi feito com tanto carinho, que não gostaria de perder no fogo. Também jogaria no carrinho o Diário do Bebê dela, cheio de anotações das coisas que aconteceram nos primeiros meses de vida dela, com datas e detalhes que não me lembro se não olhar nele.

Fora esses itens, acho que o resto poderia arder no fogo e eu só lamentaria até poder comprar tudo de novo (basicamente móveis, livros e DVDs).

E você, fogoso leitor (pegou? pegou? ahn? fogoso > incêndio. heh), o que tentaria salvar se sua casa estivesse pegando fogo?

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Trilha Sonora: Eletrical Storm - U2. Melhor que a música, só o clipe dela. Lindo!

A Última Gota

Eu tinha muito para dizer, eu tinha muito para perguntar, tinha muito para saber, mas não quero mais.
É como ficar cutucando aquela ferida que está quase secando e daí ela volta a sangrar e arde tudo de novo.
Cansei de cutucar feridinhas quase secas, cansei de oferecer minha pele para novas feridas serem abertas. Já tenho minha coleção de cicatrizes que nunca sumirão, não preciso de mais uma.
Chorei, sim, por menos de cinco minutos e só agora há pouco, mas disfarcei enquanto olhava a janela e bebia água para não ter que encarar ninguém e explicar e justificar e dar detalhes e me envergonhar de ainda estar nessa.
Ainda estou, mas tô saindo.
Já tranquei todas as portas e estou apenas procurando um bom e fundo buraco para enterrar as chaves.
Eu não preciso mais disso. Eu não quero mais isso.
O choro talvez tenha sido do alívio que sinto agora que consegui ver tudo com clareza, como se eu tivesse passado anos sem enxergar direito as coisas e agora, de repente, uma luz se acendeu na minha frente e percebi os passos tortos que eu estava dando em direção ao nada. O choro talvez tenha vindo pela tristeza de ver a verdade. A verdade dói, não dói? É o que sempre dizem.
E eu sempre disse que prefiro a dor da verdade do que a mentira que envenena. Saber da verdade é como a sensação de alívio depois de um tapa. Arde. Dói. Mas em poucos segundos a dor passa completamente e fica apenas aquele calor do sangue correndo quente debaixo da pele. E é enquanto o sangue está quente que a gente deve reagir depois de um tapa, depois de ouvir a verdade.
Já deixei para reagir depois, com o sangue frio e correndo mais calmo, mas me vi novamente e muitas vezes mais na mesma posição. Sendo envenenada pelas mentiras e implorando pelo tapa na cara.
Mas chega um dia que basta. Basta de venenos em pequenas doses, venenos em belos frascos e venenos antigos. Já provei todos e o que não mata, fortalece, não fortalece? É o que dizem também.
Agora que provei a última dose de veneno e consegui o tapa na cara que eu queria, tenho forças para largar esse hábito de cutucar as feridas, trancar a porta desse lugar que já desabou há tempos e esperar o corpo acostumar com todas as cicatrizes, colocar pra fora a última gotinha do veneno que se entranhou em mim e voltar a viver por quem vale a pena, contando apenas com quem realmente deseja estar ao meu lado e dando uma chance para quem está disposto a me estapear com as verdades sempre, sem me matar aos pouquinhos com os venenos que já conheço bem.
Continuo firme no meu caminho. Com a bagagem cada vez mais leve e livre de culpas.


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Trilha Sonora: A rádio mental começou com Lenine - A Medida da Paixão e terminou com Strokes - Last Nite. Boa troca.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Que Escolhi

Tenho passado tempo demais sozinha, acordada até tarde depois que a Alice dorme. Esse tempo tem sido bom para refletir, para questionar algumas coisas que faço, para me entender sobre decisões que tomei. Para me arrepender de algumas e reafirmar outras.
Ando pensando muito nas minhas escolhas, no que teria acontecido se em tal momento eu tivesse tomado o caminho da direita ou da esquerda ao invés de seguir em frente.
Cheguei a uma conclusão inconclusiva apenas: tudo o que tenho hoje foi escolha minha. Tudo o que não tenho hoje foi escolha minha.
Minhas decisões estão pesando nos meus ombros e ao mesmo tempo me dando o alívio de ver que o peso poderia ser maior hoje.
Me sinto orgulhosa por ter a coragem que muitos não tiveram e nunca terão de jogar tudo pro alto nos momentos incertos e recomeçar, forçando cada momento a se tornar certo.
Ainda cometo erros, ainda preciso de ajuda com muita coisa, ainda me perco dentro de mim. Mas por fora, mesmo que doa, sigo firme tentando acertar, tentando me encontrar
Hoje entendo que tudo na minha vida pode ser o que eu quiser que seja. Se eu posso escolher ficar ou partir, amar ou odiar, calar ou falar... Vou escolher sempre o que me doer menos e me ensinar mais.
Tudo é opção. Tudo é escolha.
Minha opção foi amadurecer, me tornar responsável por outra vida, me tornar diariamente melhor do que fui ontem.
Não é fácil lutar contra velhos hábitos, não é fácil se desfazer de antigos fantasmas. Mas a bagagem precisa ser leve se eu quiser seguir em frente.
Se passei um tempo perdida, sem rumo e sem planos para o futuro, posso dizer que hoje sei exatamente onde estou e para onde quero ir. Sei quem eu não sou e o que eu não quero pra minha vida, mesmo não tendo plena certeza de quem sou e do que quero. Minha única certeza é o caminho que pretendo seguir.

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Quem conhece bem as músicas da Alanis, deve ter notado que tomei emprestado um verso de Precious Illusions (mais a idéia dele do que ele todo). É que não achei meio mais apropriado de expressar o que eu queria dizer. Sabe aquela coisa de "tal música fala por mim"? Pois então. Essa é só mais uma dessas músicas.

O clipe (lindo) e a música completa, pra quem curte ou não conhece e ficou curioso.

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Trilha Sonora: Enquanto Durmo - Zélia Duncan.