Eu tinha muito para dizer, eu tinha muito para perguntar, tinha muito para saber, mas não quero mais.
É como ficar cutucando aquela ferida que está quase secando e daí ela volta a sangrar e arde tudo de novo.
Cansei de cutucar feridinhas quase secas, cansei de oferecer minha pele para novas feridas serem abertas. Já tenho minha coleção de cicatrizes que nunca sumirão, não preciso de mais uma.
Chorei, sim, por menos de cinco minutos e só agora há pouco, mas disfarcei enquanto olhava a janela e bebia água para não ter que encarar ninguém e explicar e justificar e dar detalhes e me envergonhar de ainda estar nessa.
Ainda estou, mas tô saindo.
Já tranquei todas as portas e estou apenas procurando um bom e fundo buraco para enterrar as chaves.
Eu não preciso mais disso. Eu não quero mais isso.
O choro talvez tenha sido do alívio que sinto agora que consegui ver tudo com clareza, como se eu tivesse passado anos sem enxergar direito as coisas e agora, de repente, uma luz se acendeu na minha frente e percebi os passos tortos que eu estava dando em direção ao nada. O choro talvez tenha vindo pela tristeza de ver a verdade. A verdade dói, não dói? É o que sempre dizem.
E eu sempre disse que prefiro a dor da verdade do que a mentira que envenena. Saber da verdade é como a sensação de alívio depois de um tapa. Arde. Dói. Mas em poucos segundos a dor passa completamente e fica apenas aquele calor do sangue correndo quente debaixo da pele. E é enquanto o sangue está quente que a gente deve reagir depois de um tapa, depois de ouvir a verdade.
Já deixei para reagir depois, com o sangue frio e correndo mais calmo, mas me vi novamente e muitas vezes mais na mesma posição. Sendo envenenada pelas mentiras e implorando pelo tapa na cara.
Mas chega um dia que basta. Basta de venenos em pequenas doses, venenos em belos frascos e venenos antigos. Já provei todos e o que não mata, fortalece, não fortalece? É o que dizem também.
Agora que provei a última dose de veneno e consegui o tapa na cara que eu queria, tenho forças para largar esse hábito de cutucar as feridas, trancar a porta desse lugar que já desabou há tempos e esperar o corpo acostumar com todas as cicatrizes, colocar pra fora a última gotinha do veneno que se entranhou em mim e voltar a viver por quem vale a pena, contando apenas com quem realmente deseja estar ao meu lado e dando uma chance para quem está disposto a me estapear com as verdades sempre, sem me matar aos pouquinhos com os venenos que já conheço bem.
Continuo firme no meu caminho. Com a bagagem cada vez mais leve e livre de culpas.
***
Trilha Sonora: A rádio mental começou com Lenine - A Medida da Paixão e terminou com Strokes - Last Nite. Boa troca.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
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