Estava vendo no Catraca Livre sobre um projeto de uma fotógrafa que registrou o corpo de várias mulheres na gestação e as marcas que o parto deixou depois.
São fotos lindas, em preto e branco, sem photoshop, tudo muito delicado e transbordando maternidade (sabe relação de mãe e bebê, que só quem é mãe sabe? Aquela intimidade e amor puro? Então).
Fiquei olhando e pensando no que o parto fez com o meu corpo. Na minha dificuldade em aceitar as marcas que ganhei.
Falei disso poucas vezes desde que minha filha nasceu e, acho que das duas ou três vezes que falei, não senti nem metade do apoio que eu esperava e, por isso, me fechei mais sobre o assunto.
Nunca fui magra. Sempre fui de gorda a gordinha, passando por fases menos gorda, mas estando a maior parte do tempo no estágio gorda e ponto.
Quem é gordo sabe, o corpo não é só banha. É também estria e celulite. Tenho tudo. Já tive estrias roxas nas pernas, mas elas sumiram magicamente e só ficaram as estrias brancas, mas bem fracas, nem chamavam atenção.
Nunca me incomodei de verdade com a minha imagem no espelho. Podia olhar e não ficar satisfeita, aí fechava a boca por uns dias e perdia alguns números na medida do quadril e barriga. Mas eu sempre olhava meu corpo no espelho. Mesmo que procurando os defeitos, eu olhava meu corpo no espelho. Vestida, nua, depois do banho, me arrumando pra sair.
Durante a gravidez, eu não engordei como todo mundo imaginava e, pelo contrário, de certa forma perdi peso. Terminei a gravidez pesando pouco mais de 5kg além do que eu pesava no início, o que significa que o meu corpo perdeu gordura e ganhou peso de bebê+água+barriga. Como eu estava bem acima do meu peso, isso foi bom no fim das contas.
Acontece que, apesar da cintura estar mais fina, minha barriga estava tomada de estrias. Passei cremes conforme o médico recomendou, evitei tomar sol conforme todo mundo alertou, cuidei um pouco (muito pouco) da minha alimentação, mas não mudou nada. Quando a bebê nasceu, restou pra mim uma barriga flácida e cheia de estrias escuras.
Além disso, ela nasceu de uma cesárea, então ganhei também um corte cirúrgico logo abaixo da minha barriga e, por necessidade médica ou barbeiragem obstétrica (nunca saberei), uma tatuagem que tenho e me fazia gostar um pouco mais do meu corpo, foi estragada no parto porque o corte terminou bem em cima do desenho e depois que levei os pontos, ficou uma coisa meio remendada.
Tudo isso é coisa que ninguém vê e nem imagina se não tiver a oportunidade de me ver sem roupa. E tudo isso é coisa que nem eu vejo direito mais.
Há 1 ano e 7 meses eu não me olho direito no espelho. O corte da cesárea e a cicatriz que ela deixou, só tive coragem de olhar por poucos minutos há uns 2 meses. Todo o resto eu evito olhar. Tomo banho olhando pra frente, me visto olhando pra roupa, me arrumo sem me encarar no espelho e só foco o olhar nos detalhes que preciso num momento específico.
Tudo isso para dizer que não, não estou satisfeita com os efeitos da gravidez no meu corpo. Não é fácil aceitar uma cicatriz que eu nem sei direito como é. Não é fácil encarar minha barriga listradinha, mesmo que fotos na internet me encorajem a pensar que somente mulheres fortes como tigresas merecem listras no corpo.
Aí volto ao começo do post, às fotos das grávidas e mães recém nascidas. Como é estranha nossa mania de olhar o outro e conseguir ver beleza e graça nas exatas mesmas coisas que nós temos e não aceitamos... Como é hipócrita da minha parte, comigo mesma, admirar o corpo alheio e não ser capaz de encarar o meu próprio corpo com a admiração maior, justamente por ser o meu corpo.
E, por fim, se você, leitor ou leitora (mesmo que não comentem, eu sei que estão aí. O Analytics me disse), é do tipo infeliz ou traumatizado com o seu corpo, pára e pensa. Veja se não está cometendo com você a mesma injustiça que cometo comigo. Não tenho um conselho pra te dar e muito menos um final feliz pra esse post, nada como "então, a partir de agora amo meu corpo e me aceito e vou fazer topless na praia amanhã e vou usar blusa de barriga de fora e vou posar nua mês que vem". Nada disso. Continuo infeliz, insatisfeita e evitando me olhar, mas hoje, vendo as tais fotos, percebi o que estou fazendo. Se ter consciência dos erros já é o primeiro passo para a mudança, talvez esse seja um dia marcante. Se não for, valeu a reflexão e achei que devia dividir isso com mais gente porque, de vez em quando, a resposta para os nossos problemas está no espelho dos outros.
***
Trilha Sonora: Tem uma melodia na minha cabeça, mas não sei se inventei ou se ouvi e não sei o nome. ;ou tô louca e nem tem nada.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
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2 comentários:
Nem sei por onde começar... Bom, vejamos: a respeito da sua cicatriz, que arruinou a tatuagem, são enormes as chances de negligência médica. Até a cesariana, por si só, pode ter sido uma questão de "preguiça médica". Mas ok, acho que isso nem faz parte do assunto (e já é passado).
Quanto as estrias, óleo de amêndoas é um santo remédio. Passo todas as noites na cintura. Sofro com o "efeito sanfona", sabe? Perco e ganho peso rapidamente.
No mais, posso dizer que hoje sou feliz com o meu corpo depois de sofrer muito com gordurinhas fora do lugar. Não é fácil se aceitar. A sociedade tá aí pra complicar mais ainda. É uma questão de escolher seu próprio caminho sem medo, mudar alguns hábitos e fazer algo de efetivo pra mudar o que tá incomodando. Mas, na minha opinião, (antes de se matricular numa academia, fazer mais refeições), a mudança começa de dentro pra fora :)
Beijos
Bepantol na cicatriz, você vai ver: parece milagre!
Do túnel do tempo: Num dia das mães, meu filho, em seu primeiro cartão escrito por ele, colocou: "Desculpe por eu te fazer ficar gorda". Depois dessa, parei de culpar a gravidez, e desencanei do MOTIVO que me fez engordar.
No fim das contas, tenho hipotireoidismo, não vou emagrecer nunca, e quando der vou fazer uma plástica na barriga, massss... trabalhando como eu trabalho, quando terei 45 dias pra ficar de repouso?
Vou levando, vou levando... mas parei de culpar a gravidez.
Bjo!
PS- Primeira vez por aqui, vim pelo link de uma amiga.
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