Naquela minha crise criativa, semanas atrás, a
Maray sugeriu que eu falasse sobre a minha cidade, do ponto de vista pessoal, mais com o coração. Gostei da sugestão dela.
Acontece que havia um problema: eu não nasci na cidade onde eu moro atualmente e a cidade onde moro é (pra mim) o lugar mais horroroso do mundo. Impossível eu elogiar isso aqui.
A cidade onde nasci, Osasco, eu gosto, mas quando me mudei de lá eu não trouxe muitas impressões interessantes que pudesse dividir com vocês.
Achei difícil escrever sobre isso, mas fiquei com a idéia na cabeça.
Então, ontem o
Mike disse que tem umas amigas que se formaram em Letras pela mesma universidade, na mesma cidade, Assis, onde eu
finjo que estudo. Aí ele sugeriu que eu falasse sobre o mundo assisense.
Misturando as duas sugestões em uma, vou contar para vocês sobre a terra da cerveja Malta (porra! eu tô com mania de enfiar cerveja em tudo que é canto!).
Pois bem:
Assis fica no interior de SP,
velho- oeste paulista.
Segundo as informações da
Wikipedia, no ano 2000 Assis tinha 87.251 habitantes.
Ah... Quem se importa com dados, estatíticas e esse blá blá blá? Cliquem aí no link da Wikipedia e vejam as informações.
Minha história com Assis começou em 2003. Comecei a ir para lá por causa do vestibular. Que eu não fui aprovada.
Nessa época eu não curtia muito a cidade. Ainda estava sob a revolta da mudança para o interior e odiava tudo que fosse relacionado à gente falando porrrrta, verrrrde...
No ano seguinte, prestei vestibular de novo e passei.
Aí comecei a ir para lá todo santo dia.
Me apeguei logo nos primeiros meses.
Há quem odeie Assis com todas as forças. Geralmente, quem odeia é porque veio de uma cidade maior e sente falta das coisas de cidade grande.
Aí, à saudade de casa somam-se os problemas que os alunos da Unesp enfrentam em Assis e o ódio só aumenta.
Que problemas? Preconceito.
Não sei o motivo exato, mas os assisenses (não todos) acham que aluno da Unesp divide-se nas seguintes categorias: drogados, putas e putas drogadas.
Há 'lendas' que dizem que fulaninha já teve um cheque recusado no mercado ao deixar escapar que estudava lá.
Vai saber...
O fato é que eu gosto muito de lá porque, apesar do povo de mente pequena, da cidade não ser tão grande e não ter muitas opções de lazer e trabalho, foi em Assis que eu conheci pessoas maravilhosas, é lá que eu estou descobrindo quem eu sou, onde tenho vivido dias memoráveis...
Tem uma avenida lá, a Dom Antônio, que, segundo a lenda, é a avenida sem fim.
Passo por ela pelo menos uma vez por semana. Às vezes várias vezes ao dia.
E a verdade é que em poucos lugares eu me sinto tão livre quanto eu me sinto caminhando ali.
Aquele vento que vem cortando o rosto nos dias de inverno, a 'tempestade de areia' que sempre vem na direção dos meus olhos, o sol fortíssimo que lembra o deserto do Saara... Nada disso me faz desanimar.
Há quem goste de meditar em casa, outros na aula de yoga. Eu gosto de meditar caminhando na Dom Antônio.
Quem mora lá sempre brinca dizendo que Assis tem 3 sóis (um sol para cada letra S), por causa do calor que faz lá. Tem também a comparação que fazemos entre Assis e o deserto, porque durante um único dia você enfrenta as mais diferentes variações de temperatura, do sol intenso ao frio congelante: de manhã está ventando, temperatura agradável. À tarde começa a hora do sol (os 3 ao mesmo tempo), aí, do nada, começa uma ventania com areia e você fica com o olho cheio de cisco. Fim de tarde, esfria e chove. À noite... Sempre uma surpresa, mas com frio ou calor, a temperatura será extrema.
Domingo para os estudantes é dia de ir para a FAC (Fundação Assisense de Cultura). Ver bons filmes, exposições, peças teatrais, encontrar amigos, desestressar.
De segunda à sexta é dia de ir ao Ex-Tensão Universitária, o bar em frente à faculdade. Nome perfeito, aliás, já que aprendemos muita coisa nos 'cursos de extensão' que fazemos na mesa do bar, ao som de Rock anos 60, 70, 80 e Blues. Tudo isso enquanto saboreamos (?) a Conti ou a Crystal (as responsáveis por dor de cabeça e dor de barriga em metade dos consumidores).
Quinta e sábado é dia de festa nas repúblicas. Unespianos com carteirinha pagam R$3,00 ou R$5,00 na maioria delas, que começam quase sempre em horários esquisitos (11:33pm, 11:47pm...) e só acabam quando a polícia chega a pedido dos vizinhos.
Eu poderia ficar escrevendo muito mais, mas tenho consciência de que já escrevi o bastante (mais do que o bastante).
Vou terminar resumindo para quem não teve coragem de ler tudo: Assis é um lugar legal para quem chega de coração aberto e não tem preconceito com gente preconceituosa. Se tiver jogo de cintura e fizer bons amigos, a estadia em Assis será o período lembrado pelo resto da vida.
Minha intenção é voltar para SP, mas se tudo der errado e eu tiver que ficar no interior, é em Assis que eu quero viver. Na Terra do Nunca, como batizamos a cidade dos 3 S.
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Trilha sonora: Agora é Northern Star - Hole, mas já tocou de tudo (Legião, Ceumar, Kath Bloom...).