sexta-feira, 21 de março de 2008

A cidade dos 3 S

Naquela minha crise criativa, semanas atrás, a Maray sugeriu que eu falasse sobre a minha cidade, do ponto de vista pessoal, mais com o coração. Gostei da sugestão dela.
Acontece que havia um problema: eu não nasci na cidade onde eu moro atualmente e a cidade onde moro é (pra mim) o lugar mais horroroso do mundo. Impossível eu elogiar isso aqui.
A cidade onde nasci, Osasco, eu gosto, mas quando me mudei de lá eu não trouxe muitas impressões interessantes que pudesse dividir com vocês.
Achei difícil escrever sobre isso, mas fiquei com a idéia na cabeça.
Então, ontem o Mike disse que tem umas amigas que se formaram em Letras pela mesma universidade, na mesma cidade, Assis, onde eu finjo que estudo. Aí ele sugeriu que eu falasse sobre o mundo assisense.
Misturando as duas sugestões em uma, vou contar para vocês sobre a terra da cerveja Malta (porra! eu tô com mania de enfiar cerveja em tudo que é canto!).
Pois bem:
Assis fica no interior de SP, velho- oeste paulista.
Segundo as informações da Wikipedia, no ano 2000 Assis tinha 87.251 habitantes.
Ah... Quem se importa com dados, estatíticas e esse blá blá blá? Cliquem aí no link da Wikipedia e vejam as informações.
Minha história com Assis começou em 2003. Comecei a ir para lá por causa do vestibular. Que eu não fui aprovada.
Nessa época eu não curtia muito a cidade. Ainda estava sob a revolta da mudança para o interior e odiava tudo que fosse relacionado à gente falando porrrrta, verrrrde...
No ano seguinte, prestei vestibular de novo e passei.
Aí comecei a ir para lá todo santo dia.
Me apeguei logo nos primeiros meses.
Há quem odeie Assis com todas as forças. Geralmente, quem odeia é porque veio de uma cidade maior e sente falta das coisas de cidade grande.
Aí, à saudade de casa somam-se os problemas que os alunos da Unesp enfrentam em Assis e o ódio só aumenta.
Que problemas? Preconceito.
Não sei o motivo exato, mas os assisenses (não todos) acham que aluno da Unesp divide-se nas seguintes categorias: drogados, putas e putas drogadas.
Há 'lendas' que dizem que fulaninha já teve um cheque recusado no mercado ao deixar escapar que estudava lá.
Vai saber...
O fato é que eu gosto muito de lá porque, apesar do povo de mente pequena, da cidade não ser tão grande e não ter muitas opções de lazer e trabalho, foi em Assis que eu conheci pessoas maravilhosas, é lá que eu estou descobrindo quem eu sou, onde tenho vivido dias memoráveis...
Tem uma avenida lá, a Dom Antônio, que, segundo a lenda, é a avenida sem fim.
Passo por ela pelo menos uma vez por semana. Às vezes várias vezes ao dia.
E a verdade é que em poucos lugares eu me sinto tão livre quanto eu me sinto caminhando ali.
Aquele vento que vem cortando o rosto nos dias de inverno, a 'tempestade de areia' que sempre vem na direção dos meus olhos, o sol fortíssimo que lembra o deserto do Saara... Nada disso me faz desanimar.
Há quem goste de meditar em casa, outros na aula de yoga. Eu gosto de meditar caminhando na Dom Antônio.
Quem mora lá sempre brinca dizendo que Assis tem 3 sóis (um sol para cada letra S), por causa do calor que faz lá. Tem também a comparação que fazemos entre Assis e o deserto, porque durante um único dia você enfrenta as mais diferentes variações de temperatura, do sol intenso ao frio congelante: de manhã está ventando, temperatura agradável. À tarde começa a hora do sol (os 3 ao mesmo tempo), aí, do nada, começa uma ventania com areia e você fica com o olho cheio de cisco. Fim de tarde, esfria e chove. À noite... Sempre uma surpresa, mas com frio ou calor, a temperatura será extrema.
Domingo para os estudantes é dia de ir para a FAC (Fundação Assisense de Cultura). Ver bons filmes, exposições, peças teatrais, encontrar amigos, desestressar.
De segunda à sexta é dia de ir ao Ex-Tensão Universitária, o bar em frente à faculdade. Nome perfeito, aliás, já que aprendemos muita coisa nos 'cursos de extensão' que fazemos na mesa do bar, ao som de Rock anos 60, 70, 80 e Blues. Tudo isso enquanto saboreamos (?) a Conti ou a Crystal (as responsáveis por dor de cabeça e dor de barriga em metade dos consumidores).
Quinta e sábado é dia de festa nas repúblicas. Unespianos com carteirinha pagam R$3,00 ou R$5,00 na maioria delas, que começam quase sempre em horários esquisitos (11:33pm, 11:47pm...) e só acabam quando a polícia chega a pedido dos vizinhos.
Eu poderia ficar escrevendo muito mais, mas tenho consciência de que já escrevi o bastante (mais do que o bastante).
Vou terminar resumindo para quem não teve coragem de ler tudo: Assis é um lugar legal para quem chega de coração aberto e não tem preconceito com gente preconceituosa. Se tiver jogo de cintura e fizer bons amigos, a estadia em Assis será o período lembrado pelo resto da vida.
Minha intenção é voltar para SP, mas se tudo der errado e eu tiver que ficar no interior, é em Assis que eu quero viver. Na Terra do Nunca, como batizamos a cidade dos 3 S.

***
Trilha sonora: Agora é Northern Star - Hole, mas já tocou de tudo (Legião, Ceumar, Kath Bloom...).

11 comentários:

Mila disse...

Além da Wikipedia, procurem o que a Desciclopedia tem a dizer sobre Assis e Unesp.
kkk

Mike disse...

Grande Milla,
Assis deve ser interessante, mas somente pela unesp e pela vida acadêmica de "ex-tensão universitária" (heheheh).
As minhas amigas já se formaram faz uma década, porém seus comentários não diferem muito do que vc apresentou. Vou passar o link para elas lerem e comentarem.
Esse lance de meditar na "estrada sem fim", enfrentando tempestade de areia pareceu um ritual de limpeza espiritual... hehehe, já imaginei vc chegando na sala de aula toda bege, coberta de areia, mas super zen... paz e amor.
Muito bacana este post... para entrar um tanto mais no teu universo continiano.
Grande abraço

fjunior disse...

o clima deve ser parecido com o clima de Brasília, que é clima de deserto, terrível... o ar da cidade, me lembra o ar da cidade onde nasci que é aqui em Brasília mesmo, uns 60 Km afastada do centro, por assim dizer... o que empresta a cidade estes ares de cidade pequena, do interior, onde todo mundo se conhece...

Bel Gasparotto disse...

Uhm, fiquei com inveja, vou escrever sobre a minha "maravilhosa" cidade de Santo André...

Acho que eu morreria em uma cidade pequena, legal você ter se adaptado!

Mila disse...

hahaha
Toda encardida, né, Mike? Bege seria elogio.
Pior que eu ando muito de rasteirinha e, por conta disso, meu pé vive vermelho lá em Assis.
Um nojo!
Mas, é como diz um dos hinos da Unesp em relação às outras cidades: "Assis é mais legal! Assis é mais legal!"
Cidade de interior metida à cidade grande. rs

Marcelo disse...

Bem legal o seu estilo com as palavras, Mila.
Descolada, Divertida, Leve...
Gostei muito da sua história sobre Assis, e li tudo viu?
Não sabia que essa gente era tão preconceituosa, mas às vezes cria-se uma "cultura torta" e o povo a segue mesmo sem querer.
Realmente não me lembro se já estive aí, possivelmente sim porque conheço todo o interir de SP.
Mas não troco a cidade onde vivo por nada desse mundo...

Beijinhos e , mais uma vez, bem legal te ler =)

Adriana disse...

Olá,
Estudei na Unesp de Marilia e ao ler o seu post me lembrei dos anos que vivi lá e como a minha impressão da cidade é muito parecida com a sua.
Talvez seja o olhar unespiano. hehehe...
Conheço Assis, tenho alguns parentes por aí, inclusive um primo que estudou letras na Unesp. Pretendo em breve me mudar para Assis, pois pretendo prestar mestrado na unesp e foi bem legal conhecer o olhar de uma unespiana sobre a cidade.
Um grande beijo,
Gostei muito de seu blog!

Luana! disse...

Ahhhhhhhhhhh!!!
Adorei a descrição, menina! Me senti numa daquelas cidadezinhas americanas. ehehehe
Mas sabe, Milla?! Eu considero que a cidade de Assis só valha à pena, enquanto uma 'extensão universitária'. Acredito que viver nessa cidade, com um povo tão cabeça pequena assim, não deva ser a melhor das opções para o seu futuro.
De qualquer maneira, boa sorte com os três sóis!

p.s.: eu medito lavando louça... :-O

Beijooooo

Vanrogue disse...

Poo... estamos parecidos...
Sou do Rio de Janeiro e Moro em Santa Catarina! Imagina a Mudança drastica?
Digamos que minha "nacionalidade" nao sobreviveu... mas querendo ou nao, RJ nao me traz muitas coisas com que me orgulhar ou refletir.
Digamos que sair da terra do Funk e cair na terra no Vanerão não foi uma mudança produtiva para um bom rockeiro hehehehehee ...

Mas ficou muito bom mesmo sua descrição!

Beijos!

E até uma proxima vez...

Anônimo disse...

Não conheço Assis, mas vc a pintou tão simpática que deu vontade. Em compensação, conheço bem a terra de Oz - osasco :)
As cidades são pedaço das gentes que vivem nelas. Eu nasci e vivo em Sampa, é feiosa, esquisitona, mas não me imagino vivendo em outro lugar.

Anônimo disse...

Olá, Mila.
Eu sou a amiga do Mike q fez Letras em Assis há uma década (nossa!). Foi bem legal ler seu texto e matar a saudade da Unesp e tb de Assis. A minha vida se divide antes e depois da Unesp. O fantástico mundo da Unesp. Foram tempos maravilhosos. Eu precisava ter ido pra Assis! Espero te encontrar na festança dos 50 anos, em agosto.
Se vc tiver aula com a Sandra, mande-lhe um bj. Ela é maravilhosa!
Abç